Cirurgia no hepatopata: quando indicar? O que avaliar?

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  • 9 meses atrás
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Aspectos clínicos da hepatopatia

Pacientes hepatopatas, especialmente cirróticos, têm 2-10x mais chance de morte perioperatória comparados a pacientes hígidos submetidos ao mesmo procedimento. As alterações clínicas incluem desde alterações laboratoriais isoladas até falência hepática, pois o fígado tem grande reserva funcional, e sua patologia está associada a muitos processos distintos.

Fonte.

Cirrose

Fibrose hepática nodular, de causas diversas.

CompensadaDescompensada
Estágio 1Estágio 2Estágio 3Estágio 4
ClínicaSem varizes esofágicas ou asciteVarizes esofágicas sem asciteVarizes esofágicas com ascite leveSangramento de varizes esofágicas
Mortalidade em 1 ano1%3%20%57%

Mesmo o paciente cirrótico compensado já apresenta alterações que são importantes na condução pré-operatória, podendo apresentar complicações como:

  • Anatômicas (hipertensão porta):
    • Varizes esofágicas;
    • Ascite;
    • Circulação colateral retroperitoneal;
    • Hiperesplenismo (plaquetopenia);
  • Fisiológicas:
    • Síntese:
      • Hipoalbuminemia;
      • Coagulopatia;
      • Sarcopenia;
      • Hipoglicemia;
    • Metabolismo: encefalopatia;
    • Excreção: hiperbilirrubinemia;
    • Alteração da microbiota e da permeabilidade intestinais.

Preparo pré-operatório

Variáveis relacionadas à doença, ao procedimento, e ao paciente estão associados à morbimortalidade cirúrgica em pacientes hepatopatas.

Fonte.

Escores

Child-Turcotte-Pugh (CTP)

O paciente é pontuado nos seguintes critérios:

1 ptGraus 1 e 2Graus 3 e 4
AsciteAusente2-3 mg/dL> 3 mg/dL
Albumina> 3,5 g/dL4-6 s> 6 s

Conforme a pontuação, os pacientes recebem 3 classes:

  1. 5-6 pontos;
  2. 7-9 pontos;
  3. > 9 pontos.

Deve-se sempre tentar reduzir o CTP do paciente antes da cirurgia (coagulopatias, ascite, prevenção de encefalopatia), sendo que operações eletivas não estão indicadas a pacientes CTP classe C ou a pacientes com hepatopatias agudas.

Model for End Stage Liver Disease (MELD)

Realiza cálculos empregando bilirrubina, creatinina, e o RNI. Há algumas variações, que podem empregar sódio (MELD-Na) ou algumas variáveis pediátricas (PELD).

Indica a sobrevida em 3 meses de hepatopatas, sendo, por isso, empregada para estruturação da fila de transplantes hepáticos. É arriscado operar em pacientes com MELD acima de 10.

Indicação cirúrgica

Após balancear os riscos e benefícios do procedimento, deve-se documentar no TCLE os fatores considerados para a decisão. Mesmo caso haja indicação cirúrgica clara para o paciente, sempre deve-se modificar o risco por meio da sua compensação clínica (dentro do possível) e da modificação do vulto operatório.

Abordagem pré-operatória

  • Hipertensão porta:
    • Administração de beta-bloqueadores não seletivos;
    • Controle de ascite (diuréticos, paracentese);
    • Correção de varizes esofágicas 2 semanas antes da operação;
  • Insuficiência hepática:
    • Suporte nutricional intensivo;
    • Hidratação de pacientes ictéricos com alteração da função renal;
    • Correção de coagulopatia clinicamente manifesta (reserva de hemoderivados), sem reposição rotineira pré-operatória;
    • Tratamento da encefalopatia;
  • Alcoolismo:
    • Suspensão do uso de álcool, com profilaxia da síndrome de abstinência alcoólica (benzodiazepínicos, reposição de tiamina);
    • Acompanhamento psicológico.

Monitorização intraoperatória

  • Monitorização contínua de PA por punção e cateterismo de artéria periférica;
  • Eletrocardiografia;
  • Oximetria contínua;
  • Punção venosa central (acesso e monitorização da pressão venosa central);
  • Cateterismo vesical de demora;
  • Capnografia;
  • Medida da glicemia de hora em hora.

Manejo no pós-operatório

Está indicada a internação de pacientes hepatopatas em CTI no pós-operatório. Complicações incluem:

  • Dor;
  • Encefalopatia hepática;
  • Edema de MMII;
  • Ascite;
  • Peritonite espontânea;
  • Coagulopatia com sangramento;
  • Insuficiência hepática (necessário transplante emergencial).

Referência(s)

Aula do professor Cristiano Xavier Lima.


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