Resumo de medicina legal: Energias de ordem mecânica – Feridas punctórias, incisas, contusas, perfuroincisas, perfurocontusas, e cortocontusas

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⚠️Atenção: esse resumo possui imagens de cadáveres e/ou lesões, que podem causar desconforto


São aquelas capazes de modificar o estado de repouso ou de movimento de um corpo, produzindo lesões em parte ou no todo.

Elementos

Objeto ou instrumento

Objetos são entendidos como coisas, enquanto instrumentos são essas mesmas coisas quando utilizadas para agredir (ex.: objeto faca, instrumento pérfuro-cortante). Incluem:

  • Armas propriamente ditas (ex.: revólveres, punhais);
  • Armas eventuais (ex.: facão, machado);
  • Armas naturais (ex.: punhos, pés, dentes);
  • Outros (ex.: queda, explosões, veículos).

Meio ou ação

Mecanismo pelo qual o indivíduo age, sendo homônimo do instrumento. Pode ser ativo (instrumento se move), passivo (vítima se move), ou misto (ambos se movem).

Lesão

Resultado final da atuação do objeto através do meio.

Nomenclatura

A nomenclatura do meio é sucedida de ativo/passivo/misto.

Instrumento/MeioLesão
PerfurantePunctória
CortanteIncisa
ContundenteContusa
PerfurocortantePerfuroincisa
PerfurocontundentePerfurocontusa
CortocontundenteCortocontusa
Fonte.

Lesões punctórias

Caracterizadas por afastamento das fibras dos tecidos por pressão de uma ponta.

Instrumentos de pequeno calibre

As feridas são chamadas puntiformes. Têm abertura estreita (embora possam ser profundas), pouco sangramento, e, no vivo, graças à elasticidade da pele, menos diâmetro que o do instrumento causador.

Fonte.

Instrumentos de médio calibre

O formato e a direção da lesão são os mesmos em qualquer pessoa viva, em decorrência das linhas de força da pele. São ditadas pelas seguintes leis:

  • Primeira lei de Filhos (da semelhança): as linhas de força causam extensão da ferida (em botoeira), dando aspecto semelhante ao de lesão incisa;
  • Segunda lei de Filhos (do paralelismo): a direção em que a ferida se extende é paralela às linhas de força;
  • Lei de Langer: regiões com linhas de força confluentes (em sentidos diferentes) produzem ferida estrelada.

Essas leis se aplicam apenas a indivíduos vivos, de modo que, se forem encontradas em cadáveres, indicam lesão feita em vida.

Ferida em botoeira (fonte).

Lesões incisas

O instrumento possui lâmina/gume, que desliza em sentido linear.

As feridas produzidas são lineares, com bordas e fundo regulares, hemorragia abundante por secção dos vasos, comprimento maior que profundidade, paredes lisas e regulares, e afastamento das bordas (em indivíduos vivos, dada a elasticidade da pele). Quando são incisas puras, possuem sinais particulares:

  • Ausência de vestígios traumáticos em torno da ferida (indicariam ferida cortocontusa);
  • Cauda de escoriação do lado onde termina a ação (patognomônico).

A cauda de escoriação indica o sentido, o que ajuda a determinar a causa da lesão. Embora haja escoriações no início e no fim da ferida, são mais longas no fim da ferida.

Múltiplas lesões incisas, com caudas de escoriação (fonte).

Quando múltiplas lesões estão presentes, ocorre o sinal de Chavigny. A primeira lesão é linear, mas a segunda lesão, sobre ela, por conta da elasticidade da pele, será em Z.

Sinal de Chavigny (fonte).

Algumas lesões especiais podem ser incisas ou cortocontusas:

  • Degola: secção da região cervical posterior;
  • Esgorja: secção da região cervical anterior ou lateral;
  • Decapitação: separação da cabeça do corpo;
  • Esquartejamento: separação dos membros do corpo nas articulações;
  • Espostejamento: separação dos membros do corpo fora das articulações.

Lesões contusas

Instrumentos contundentes causam os maiores danos, por compressão, esmagamento, e/ou pressão de tecidos por superfície plana. Têm aparência extremamente variável.

Escoriações

São erosões epidérmicas que não formam cicatriz, pois não atingem a derme (restitutio ad integrum). Sua forma pode sugerir objeto, e sua localização, a intenção do agressor. Quando possuem crostas e sinais inflamatórios, indicam que a lesão ocorreu ainda em vida.

Equimoses

São infiltrações hemorrágica nas malhas de tecidos. Sua forma pode sugerir objeto, e sua localização, a intenção do agressor. Podem sinalizar reações vitais, e sua tonalidade indica a evolução:

A equimose conjuntival é uma exceção, pois não segue esse espectro.

Algumas equimoses possuem nomenclaturas específicas:

  • Sugilação: equimoses em pequenos grãos, petéquias;
  • Víbices: equimoses longas e paralelas;
  • Sinal do guaxinim ou do Zorro: equimose bipalpebral bilateral, indicando TCE com fratura de base do crânio.
Sugilações (fonte).
Víbices (fonte).
Sinal do guaxinim ou do Zorro (fonte).

É comum encontrar entre equimoses lesões figuradas ou com assinatura, ou seja, que possuem formato parecido com o do objeto causador.

Hematomas

Hematomas extradurais e subdurais indicam trauma, devendo corpos com esses achados ser encaminhados ao IML (causa externa de morte).

Ferida cutânea contusa

Produzida por pressão, compressão, percussão, arrastamento, explosão e tração dos tecidos. Tem características opostas à da ferida incisa: forma estrelada, bordas irregulares, escoriadas, e equimosadas, fundo e margens irregulares, pontes de tecido íntegro entre as margens (patognomônico do trauma contuso puro), pouca hemorragia (hemostasia traumática por esmagamento dos vasos), e integridade dos tecidos no fundo da ferida.

Pontes de tecido íntegro entre as bordas da lesão (fonte).

Um tipo específico de ferida é o desenluvamento, provocado por trações em sentidos contrários.

Desenluvamento (fonte).

Outras feridas

  • Fraturas, entorses e luxações;
  • Rotura de vísceras internas;
  • Lesões por queda de altura.

Lesões mistas

Lesões perfuroincisas

São produzidas por instrumentos que possuem ponta e gume, combinando pressão e secção. Especialmente quando atingem a cavidade abdominal, são graves.

Não é possível determinar o comprimento do objeto perfurante pela profundidade do ferimento, nesses casos, pois são feridas em sanfona ou acordeão de Lacassagne: o instrumento pode ter sido inserido mais profundamente que seu comprimento antes de ser retirado do corpo.

Lesões cortocontusas

São produzidas por instrumentos que possuem lâmina, mas também têm ação contundente, seja pelo seu peso ou pela força de quem os maneja. Combinam, assim, deslizamento e pressão.

Diferentemente da ferida incisa, não apresentam cauda de escoriação, e, diferentemente da contusa, não possuem pontes de tecido íntegro entre as bordas da ferida.

As mais comuns são mordeduras humanas (as animais costumam ser perfurocontusas, e mais graves).

Referência(s)

Aulas da professora Luciana de Paula Lima Gazzola.


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