Manejo do paciente grave
Paciente não se move
Potencialmente inconsciente ou em PCR.
- Verificar segurança da cena;
- Chamar ajuda;
- Buscar o DEA (se sozinho/sem ajuda);
- Fazer CAB:
- Circulation;
- Airway;
- Breathing.
Paciente se move
Não está em PCR, objetivo é identificar e tratar causas que podem levar à PCR.
- Fazer ABCDE:
- Airway;
- Breathing;
- Circulation;
- Disability: Glasgow ou AVDI:
- Alerta;
- Voz;
- Dor;
- Inconsciente;
- Exposure.
- Pedir que o ajudante faça MOV2:
- Monitorizar (SpO2, ECG contínuo de 5 derivações, PA inicialmente não invasiva);
- Oxigenioterapia (deixar dispositivos prontos);
- Veias (se for necessário fazer volume, 2 acessos calibrosos, Jelco 14-16, mas, se não for, apenas 1 acesso qualquer, Jelco 18-22);
- Vácuo (aspirar cavidade oral).
- Anamnese direcionada: SAMPLE:
- Sinais e sintomas;
- Alergias;
- Medicações em uso;
- Patologias prévias/Pregnancy;
- Last meal;
- Evento.
- Solicitar exames:
- ECG de 12 derivações;
- Glicemia capilar;
- Exames direcionados à clínica.
Ventilação não invasiva
A PCR é causada por falha de ventilação, não de IOT. Portanto, embora a IOT seja ideal (via aérea definitiva), não pode ser a única opção.
Oxigenação
- Oferta de oxigênio deve ser titulada de forma a ofertar o mínimo necessário para o paciente manter saturação adequada:
- Em pacientes saudáveis: ≥ 95% (tolera-se ≥ 92%);
- Em DPOCíticos: 88-92%.
- FiO2 (fração inspirada de oxigênio): porcentagem/concentração de oxigênio no ar que está sendo inspirado. O fluxômetro/concentrador fornece O2 virtualmente a 100%.
Ventilação por cânula nasal
- Primeira técnica a ser tentada.
- Deve ser posicionada segundo a técnica “óculos-gravata”.
- O fluxômetro oferece O2 a 100%, enquanto o ar ambiente tem cerca de 22%. Como o cateter não oclui a via aérea, há mistura de ares, de modo que cada L de O2 no fluxômetro aumenta a FiO2 em 3-4%. O cateter tolera até 6 L/min (a partir de 4 L/min, deve-se também empregar umidificador com ABD), com resultado de FiO2 máxima de cerca de 45%. Por isso, é inapropriado se SpO2 < 88%.
- A cânula nasal de alto fluxo (CNAF) é uma alternativa que tolera até 60 L/min, e faz pressão positiva, prevenindo atelectasia.
Ventilação por máscara não reinalante
- Feita com Ambu, cujo nome técnico é dispositivo bolsa-válvula-máscara. Possui 2 válvulas: uma garante fluxo unidirecional, outra limita a pressão que pode ser administrada a 60 mmHg (previne barotrauma)
- Critérios de ventilação difícil:
- Barba;
- Edentulação;
- Anormalidades craniofaciais;
- Retrognatismo;
- Distância tireo-mentoniana < 6 cm;
- Macroglossia;
- Mallampatti 3 ou 4;
- AOS.
- Parâmetros de ventilação:
- Frequência: na VPP, uma FR elevada prejudica hemodinâmica às custas do retorno venoso, então, em adultos, deve ser de 10 irpm (1 ventilação a cada 6 seg);
- Pressão: o Ambu tem a válvula ALP/pop-off para limitar a pressão a 60 mmHg, o que evita barotrauma, mas não aspiração (pressão de abertura do esfíncter esofágico é de 15 mmHg). Isso é uma avaliação subjetiva: o tórax não pode insuflar demais. Além disso, alguns pacientes precisarão de pressões entre 15-60 mmHg (ex.: obesos, em broncoespasmo), apesar do risco. Para esses, é preferível intubação em sequência rápida a VPP;
- Volume: pacientes devem receber um volume de 6-8 mL/kg do peso ideal (por volta de altura – 100 cm para homens e altura – 105 cm para mulheres, num total de 500 e 450 mL respectivamente). Como o Ambu tem 3L em formato circular, basta pressionar cerca de 1/3 dele.
- Situações especiais:
- DPOC: não pode ser ofertada uma FiO2 muito elevada, por risco de carbonarcose;
- Intoxicação por CO: ocorre em incêndios. A oximetria e a gasometria do paciente são normais, devendo ser diagnosticada pela história clínica ou por dosagem de CO dissolvido no sangue. O tratamento é com O2 a 100% por máscara não reinalante a 10 L/min;
- Intoxicação por cianeto: também ocorre em incêndios. Paciente terá hiperlactatemia, mas continuará clinicamente estável. Tratamento é com hidroxicobalamina.
Desobstrução da via aérea
Pode-se ouvir roncos no paciente que já está ventilado e com boa saturação. Isso indica obstrução, sendo a língua a mais frequente. Para isso, emprega-se:
- Chin-lift (contraindicada a pacientes com trauma cervical ou suspeita);
- Jaw-thrust;
- Cânula de Guedel (contraindicada a pacientes conscientes, com reflexo de tosse e vômito preservados);
- Cânula nasofaríngea (alternativa à Guedel para pacientes conscientes, mas não pode-se inserir nada na nasofaringe de pacientes com trauma de base de crânio ou suspeita).
Intubação
Indicações
Presença de qualquer uma das seguintes já é suficiente para indicar IOT:
- Paciente não protege via aérea (Glasgow ≤ 8);
- Manter ventilação ou oxigenação;
- Instabilidade hemodinâmica ou PCR;
- Insuficiência respiratória (hipoxêmica ou hipercápnica) refratária;
- Grandes queimados;
- Anestesia geral;
- Espera-se alguma dessas indicações na evolução clínica.
Complicações
Risco aumenta a cada tentativa falha.
- Hipóxia;
- Intubação esofágica;
- Bradicardia;
- PCR;
- Regurgitação.
Tentativa ótima
- Profissional experiente: tem sucesso em 1 tentativa em 85-90% das vezes (estima-se necessidade de 118-188 tentativas até que o profissional chegue nesse estágio);
- Tônus muscular insignificante (bloqueio neuromuscular);
- Pressão laríngea externa ótima ou manobra de BURP;
- Tipo e tamanho de lâmina adequados;
- Posição adequada da cabeça.
Intubação em sequência rápida: 7 P’s
Preparação
- Avaliar via aérea:
- Mnemônico Lemon:
- Look externally;
- Evaluate distances (regra 3-3-2);
- Mallampatti;
- Obese/Obstruction;
- Neck mobility;
- Critérios de intubação difícil:
- Intubação difícil prévia;
- Distância interincisivos < 4 cm (3 dedos);
- Distância tireo-mentoniana < 6 cm (3 dedos);
- Distância tireo-hioidea < 2 cm (2 dedos);
- Distância mento-esternal < 12 cm;
- Extensão da cabeça reduzida;
- Mallampatti 3 ou 4;
- Protusão mandibular limitada;
- Pescoço largo;
- Redução da complacência do espaço submandibular (ex.: RDT prévia).
- Mnemônico Lemon:
- Separar e testar materiais.
- Fazer MOV2.
- Estabilizar paciente antes da indução.
Pré-oxigenação
Fornecer O2 a 100% por 3-5 min, lembrando que obesos dessaturam mais rapidamente.
Pré-tratamento
Analgesia:
- Evitar broncoespasmo: lidocaína 1-1,5 mg/kg (início de ação em 45-60 seg);
- Redução da resposta simpática: fentanil 3-5 mcg/kg (início de ação em 1-2 min).
Paralisia com indução
- Indução:
- Estabilidade hemodinâmica: etomidato 0,3 mg/kg (20 mg/10 mL);
- Broncodilatação: cetamina 1,5 mg/kg (100 mg/2 mL);
- Anticonvulsivante: midazolam 0,2-0,3 mg/kg (15 mg/3 mL);
- Vasodilatação e depressão miocárdica: propofol 2-3 mg/kg (10 mg/mL).
- Paralisia:
- Despolarizante: succinilcolina 1,5 mg/kg (início 30-45 seg, término 10 min);
- Adespolarizante: rocurônio 1,5 mg/kg (início 30-45 seg, término 40 min).
Posicionamento
Passagem do tubo
Nesta etapa, a via aérea também pode se mostrar difícil:
Para facilitar a laringoscopia, existem 2 manobras:
Pós-intubação
- Insuflar o balonete;
- Fixar o tubo (ex.: micropore);
- Verificar pressão aplicada com com cufômetro para evitar estenose de traqueia (ideal: 3-5 cmH20);
- Auscultar (verificar ventilação seletiva);
- Configurar ventilação;
- Solicitar RX de tórax.
Alternativas em caso de falha
Apenas a IOT, a cricotireodotomia, e a traqueotomia são vias aéreas definitivas. No entanto, alternativas podem salvar vidas em contextos emergenciais, e mesmo em outros contextos. Se o paciente estiver em jejum, a máscara laríngea é adequada por até 6 h.
Referência(s)
Aulas das professoras Maria Júlia Spini Logato e Michelle dos Santos Severino Costa.