Mecanismos de defesa no sistema respiratório
- A barreira alvéolo-capilar é a porta de entrada para o ar, e, com isso, de patógenos que por ele podem vir carregados. As linhas de defesa dos pulmões são, nesta ordem:
- Tosse;
- Sistema mucociliar;
- Macrófagos alveolares.
- Os distúrbios infecciosos ocorrem quando a agressão se sobrepõe à defesa. Para facilitar isso, há certos fatores de risco, como:
- Situações de acúmulo de secreções:
- Redução do reflexo da tosse: sedação, coma, pós-operatório, medicamentos, convulsões, AVE, traumatismo raquimedular, neuropatias;
- Redução da eficiência do sistema mucociliar: tabagismo, asma, bronquite crônica, fibrose cística, discinesia ciliar, infecção das vias aéreas superiores (IVAS);
- Alteração da arquitetura pulmonar: neoplasia, displasia broncopulmonar, malformações, bronquiectasia, fibrose intersticial, pneumoconioses;
- Situações de redução da atividade dos macrófagos alveolares: tabagismo, alcoolismo, inalação de gases tóxicos;
- Procedimentos invasivos da via aérea: intubação orotraqueal, traqueostomia, broncoscopia;
- Isquemia alveolar: congestão: edema cardiogênico, infarto, atelectasia;
- Imunodeficiência: transplantes, quimioterapia, autoimunidade, AIDS, diabetes melito, desnutrição, doenças crônicas (infecções oportunistas).
Pneumonias
- A pneumonia é uma infecção do parênquima pulmonar, que culmina em inflamação. Toda pneumonia é uma pneumonite (alveolite, inflamação dos alvéolos), mas nem toda pneumonite é uma pneumonia.
- Agentes etiológicos causadores de pneumonias incluem bactérias, vírus, fungos, clamídia, micoplasma, micobactérias, e helmintos.
- A identificação do agente etiológico melhora o tratamento, mas a clínica e a imagem já permitem iniciar o tratamento em boa parte dos casos.
- Para identificar o agente etiológico, materiais que podem ser analisados incluem escarro (precisa vir dos alvéolos, o que restringe a sensibilidade e a especificidade desse métodos), aspirado traqueal (em pacientes intubados), lavado bronco-alveolar, líquido pleural, sangue, e biópsia.
- Métodos de identificação podem ser bioquímicos, sorológicos, moleculares, microbiológicos diretos, culturas, antibiogramas, e/ou histopatológicos.
Classificação
Pelo tempo de evolução
- Aguda:
- Sintomas evoluem em poucos dias;
- Diagnóstico mais evidente;
- Agentes etiológicos mais comuns: bactérias, vírus, clamídia, e micoplasma.
- Crônica:
- Sintomas insidiosos e intermitentes, com possível perda de peso;
- Agentes etiológicos mais comuns: micobactérias e fungos.
Pelo tipo de manifestação clínica
- Clássica/Típica:
- Sintomas incluem febre alta, tosse produtiva, dispneia, e dor torácica;
- Agentes etiológicos mais comuns: bactérias.
- Atípica:
- Sintomas incluem febre baixa e tosse seca;
- Agentes etiológicos mais comuns: vírus, clamídia, e micoplasma.
Pela origem da infecção
- Comunitária:
- Elementos sugestivos: história prévia de IVAS, sem histórico de internação recente;
- Agentes etiológicos mais comuns: Streptococcus pneumoniae, Mycoplasma pneumoniae.
- Hospitalar/Nosocomial:
- Elementos sugestivos: surgimento em até 48 h após internação, alta hospitalar recente;
- Agentes etiológicos mais comuns: Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa.
- Aspirativa:
- Elementos sugestivos: fatores de risco para aspiração de conteúdo orofaríngeo ou gástrico, infecção do pulmão direito;
- Agentes etiológicos mais comuns: polimicrobiota, flora bacteriana anaeróbica da orofaringe.
- Hematogênica;
- Por contiguidade.
Diagnóstico radiológico
- Localização:
- Unilateral;
- Bilateral.
- Padrão de edema:
- Septal (infiltrado intersticial, sugestivo de vírus, clamídia, e micoplasma);
- Alveolar (consolidação, sugestivo de bactérias).
- Lesões secundárias:
- Necrose;
- Abcesso (sugestivo de bactérias e fungos);
- Fibrose;
- Calcificação;
- Derrame pleural.
Anatomia patológica
- O padrão intersticial não tem morfologia clara. Já o padrão alveolar sugere infecção bacteriana, e pode apresentar padrão:
- Lobar (acomete lobo quase inteiro);
- Lobular/Broncopneumonia (acometimento bilateral e multifocal);
- Pseudolobar (broncopneumonia com coalescimento dos focos).
- Os alvéolos apresentam acúmulo de pus (exsudato), que muda a consistência macroscópica dos pulmões (hepatização).
Evolução da pneumonia aguda
- Possibilidades:
- Resolução:
- Sem sequela: reabsorção do exsudato e neutralização do agente;
- Com sequela: pneumonia de organização, fibrose pulmonar, e bronquiectasia;
- Hiperplasia linfoide reacional;
- Pleurite aguda fibrinosa (inflamação por contiguidade);
- Derrame pleural de exsudato;
- Abcesso pulmonar;
- Fístula broncopleural;
- Dano alveolar difuso;
- Bacteremia (complicações: meningite e/ou endocardite);
- Sepse.
- Resolução:
- A evolução favorável depende de tratamento adequado e precoce.
Pleurite aguda fibrinosa
- Vem de inflamação por contiguidade em pneumonia lobar.
- O edema e a presença de fibrina geram espessamento e atrito pleural. Isso, em conjunto com a presença de mediadores inflamatórios na pleura parietal, provoca dor pleurítica, tipicamente na inspiração.
- Caso o líquido extravase para o espaço pleural, ocorrera um derrame pleural de exsudato. A presença de pus na cavidade pleural é denominada piotórax ou empiema pleural.
- A cicatrização da pleura pode evoluir com pleurite fibrosante.
Abcesso pulmonar
- Lesão arredondada (cavitação) com conteúdo necrótico supurativo.
- Apresenta-se na clínica como febre, escarro fétido, e hemoptise.
- Evolução comum de pneumonia aspirativa, mas pode ocorrer também em outras pneumonias bacterianas (caso o agente etiológico seja muito virulento ou a resposta imune muito exacerbada).
- Ocorre em contextos além da pneumonia.
Dano alveolar difuso
- Das pneumonias, as que mais evoluem para dano alveolar difuso são as virais e aspirativas.
- Apresenta-se na radiologia com padrão de vidro fosco.
- Nas infecções, ocorre por superestimulação de macrófagos.
Pneumonias crônicas
- Quadro clínico e alterações radiológicas insidiosas, atípicas, e inespecíficas, aumentando a possibilidade de necessidade de biópsia.
- Embora tipicamente mais brandas, o prolongamento do quadro pode levar a cavitações, fibrose, e calcificação.
- Provocam inflamação crônica granulomatosa.
Referência(s)
Aula do professor Renato Laboissiere.