Distúrbios infecciosos pulmonares: anatomia patológica

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Mecanismos de defesa no sistema respiratório

  • A barreira alvéolo-capilar é a porta de entrada para o ar, e, com isso, de patógenos que por ele podem vir carregados. As linhas de defesa dos pulmões são, nesta ordem:
  1. Tosse;
  2. Sistema mucociliar;
  3. Macrófagos alveolares.
Sistema mucociliar.
Macrófagos alveolares.
  • Os distúrbios infecciosos ocorrem quando a agressão se sobrepõe à defesa. Para facilitar isso, há certos fatores de risco, como:
  • Situações de acúmulo de secreções:
    • Redução do reflexo da tosse: sedação, coma, pós-operatório, medicamentos, convulsões, AVE, traumatismo raquimedular, neuropatias;
    • Redução da eficiência do sistema mucociliar: tabagismo, asma, bronquite crônica, fibrose cística, discinesia ciliar, infecção das vias aéreas superiores (IVAS);
    • Alteração da arquitetura pulmonar: neoplasia, displasia broncopulmonar, malformações, bronquiectasia, fibrose intersticial, pneumoconioses;
  • Situações de redução da atividade dos macrófagos alveolares: tabagismo, alcoolismo, inalação de gases tóxicos;
  • Procedimentos invasivos da via aérea: intubação orotraqueal, traqueostomia, broncoscopia;
  • Isquemia alveolar: congestão: edema cardiogênico, infarto, atelectasia;
  • Imunodeficiência: transplantes, quimioterapia, autoimunidade, AIDS, diabetes melito, desnutrição, doenças crônicas (infecções oportunistas).

Pneumonias

  • A pneumonia é uma infecção do parênquima pulmonar, que culmina em inflamação. Toda pneumonia é uma pneumonite (alveolite, inflamação dos alvéolos), mas nem toda pneumonite é uma pneumonia.
Pneumonia (pneumonite infecciosa).
Pneumonite não infecciosa.
  • Agentes etiológicos causadores de pneumonias incluem bactérias, vírus, fungos, clamídia, micoplasma, micobactérias, e helmintos.
    • A identificação do agente etiológico melhora o tratamento, mas a clínica e a imagem já permitem iniciar o tratamento em boa parte dos casos.
    • Para identificar o agente etiológico, materiais que podem ser analisados incluem escarro (precisa vir dos alvéolos, o que restringe a sensibilidade e a especificidade desse métodos), aspirado traqueal (em pacientes intubados), lavado bronco-alveolar, líquido pleural, sangue, e biópsia.
    • Métodos de identificação podem ser bioquímicos, sorológicos, moleculares, microbiológicos diretos, culturas, antibiogramas, e/ou histopatológicos.
Coloração de Gram, capaz de diferenciar várias bactérias.
BAAR, exame específico para identificação de micobactérias.
Grocott, exame específico para identificação de fungos.
Pesquisa por inclusões virais.
Sars-CoV-2 à microscopia eletrônica.
Células com partículas virais de Sars-CoV-2 à microscopia eletrônica.

Classificação

Pelo tempo de evolução

  • Aguda:
    • Sintomas evoluem em poucos dias;
    • Diagnóstico mais evidente;
    • Agentes etiológicos mais comuns: bactérias, vírus, clamídia, e micoplasma.
  • Crônica:
    • Sintomas insidiosos e intermitentes, com possível perda de peso;
    • Agentes etiológicos mais comuns: micobactérias e fungos.

Pelo tipo de manifestação clínica

  • Clássica/Típica:
    • Sintomas incluem febre alta, tosse produtiva, dispneia, e dor torácica;
    • Agentes etiológicos mais comuns: bactérias.
  • Atípica:
    • Sintomas incluem febre baixa e tosse seca;
    • Agentes etiológicos mais comuns: vírus, clamídia, e micoplasma.

Pela origem da infecção

  • Comunitária:
    • Elementos sugestivos: história prévia de IVAS, sem histórico de internação recente;
    • Agentes etiológicos mais comuns: Streptococcus pneumoniae, Mycoplasma pneumoniae.
  • Hospitalar/Nosocomial:
    • Elementos sugestivos: surgimento em até 48 h após internação, alta hospitalar recente;
    • Agentes etiológicos mais comuns: Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa.
  • Aspirativa:
    • Elementos sugestivos: fatores de risco para aspiração de conteúdo orofaríngeo ou gástrico, infecção do pulmão direito;
    • Agentes etiológicos mais comuns: polimicrobiota, flora bacteriana anaeróbica da orofaringe.
  • Hematogênica;
  • Por contiguidade.

Diagnóstico radiológico

  • Localização:
    • Unilateral;
    • Bilateral.
Pneumonia unilateral.
Pneumonia bilateral.
  • Padrão de edema:
    • Septal (infiltrado intersticial, sugestivo de vírus, clamídia, e micoplasma);
    • Alveolar (consolidação, sugestivo de bactérias).
Edema septal.
Edema alveolar.
  • Lesões secundárias:
    • Necrose;
    • Abcesso (sugestivo de bactérias e fungos);
    • Fibrose;
    • Calcificação;
    • Derrame pleural.
Abcesso pulmonar.

Anatomia patológica

  • O padrão intersticial não tem morfologia clara. Já o padrão alveolar sugere infecção bacteriana, e pode apresentar padrão:
    • Lobar (acomete lobo quase inteiro);
    • Lobular/Broncopneumonia (acometimento bilateral e multifocal);
    • Pseudolobar (broncopneumonia com coalescimento dos focos).
Padrão lobar.
Padrão lobular.
Padrão pseudolobar.
Broncopneumonia.
  • Os alvéolos apresentam acúmulo de pus (exsudato), que muda a consistência macroscópica dos pulmões (hepatização).
Hepatização vermelha.
Hepatização cinzenta.
Alvéolos hiperemiados, com infiltrado inflamatório e presença de fibrina.
Edema e infiltrado intersticial.
Apagamento dos septos (sugere padrão lobular) em presença de exsudato alveolar.
Exsudato acompanhando hiperemia lobular.
Alargamento dos septos sem edema alveolar (padrão intersticial).
Inclusão viral.

Evolução da pneumonia aguda

  • Possibilidades:
    • Resolução:
      • Sem sequela: reabsorção do exsudato e neutralização do agente;
      • Com sequela: pneumonia de organização, fibrose pulmonar, e bronquiectasia;
    • Hiperplasia linfoide reacional;
    • Pleurite aguda fibrinosa (inflamação por contiguidade);
    • Derrame pleural de exsudato;
    • Abcesso pulmonar;
    • Fístula broncopleural;
    • Dano alveolar difuso;
    • Bacteremia (complicações: meningite e/ou endocardite);
    • Sepse.
  • A evolução favorável depende de tratamento adequado e precoce.

Pleurite aguda fibrinosa

  • Vem de inflamação por contiguidade em pneumonia lobar.
  • O edema e a presença de fibrina geram espessamento e atrito pleural. Isso, em conjunto com a presença de mediadores inflamatórios na pleura parietal, provoca dor pleurítica, tipicamente na inspiração.
  • Caso o líquido extravase para o espaço pleural, ocorrera um derrame pleural de exsudato. A presença de pus na cavidade pleural é denominada piotórax ou empiema pleural.
  • A cicatrização da pleura pode evoluir com pleurite fibrosante.
Pleurite aguda fibrinosa.
Pleurite aguda fibrinosa.
Pleurite aguda fibrinosa (peça ressecada por formol – notar aspecto amarelado da fibrina).
Pleurite aguda fibrinosa (fibrina fortemente eosinofílica).
Adesão entre as pleuras interlobares provocadas por pleurite aguda fibrinosa evoluindo com fibrose.

Abcesso pulmonar

  • Lesão arredondada (cavitação) com conteúdo necrótico supurativo.
  • Apresenta-se na clínica como febre, escarro fétido, e hemoptise.
  • Evolução comum de pneumonia aspirativa, mas pode ocorrer também em outras pneumonias bacterianas (caso o agente etiológico seja muito virulento ou a resposta imune muito exacerbada).
  • Ocorre em contextos além da pneumonia.
Abcesso pulmonar.
Centro e periferia do abcesso, na qual tende a formar-se uma cápsula de colágeno.
Centro do abcesso, rico em neutrófilos mortos e colônias bacterianas.
Abcesso pulmonar.
Abcesso pulmonar.

Dano alveolar difuso

  • Das pneumonias, as que mais evoluem para dano alveolar difuso são as virais e aspirativas.
  • Apresenta-se na radiologia com padrão de vidro fosco.
  • Nas infecções, ocorre por superestimulação de macrófagos.

Pneumonias crônicas

  • Quadro clínico e alterações radiológicas insidiosas, atípicas, e inespecíficas, aumentando a possibilidade de necessidade de biópsia.
  • Embora tipicamente mais brandas, o prolongamento do quadro pode levar a cavitações, fibrose, e calcificação.
  • Provocam inflamação crônica granulomatosa.
Alterações microscópicas na tuberculose.
Alterações macroscópicas na tuberculose.

Referência(s)

Aula do professor Renato Laboissiere.


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