Distúrbios neoplásicos pulmonares: anatomia patológica

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Carcinoma da laringe

  • Definição: neoplasia maligna epitelial com origem primária na laringe.
  • Principais etiologias: tabagismo, alcoolismo, aspiração de asbesto, radiação, deficiências nutricionais, e infecção por HPV.
  • Patogênese: a agressão ao conteúdo genético de células epiteliais de revestimento (mucosa) gera lesões, podendo haver uma progressão de lesões pré-neoplásicas a lesões neoplásicas. Nesse caso, a sequência é de hiperplasia → metaplasia → displasia → carcinoma in situ → carcinoma invasor.
  • Anatomia patológica:
    • Macroscópica: massa infiltrativa na parede laríngea a partir da mucosa, que pode crescer para a luz do órgão (exofítica, vegetante, polipoide) ou para sua parede (endofítica, ulcerada). Sua localização pode ser glótica, supraglótica, infraglótica, transglótica, ou no seio piriforme.
    • Microscópica: a maioria se apresenta como carcinoma de células escamosas, que têm a capacidade de formar acúmulos de queratina (pérolas córneas), que sinalizam boa diferenciação.
Visão posterior da laringe. Massa infiltrativa transglótica, de padrão exofítico.
Visão posterior da laringe. Massa infiltrativa glótica, de padrão endofítico.
Laringoscopia normal.
Laringoscopia de massa exofítica.
Laringoscopia de massa endofítica.
Displasia/Carcinoma in situ.
Carcinoma microinvasor.
Carcinoma invasor.
Pérolas córneas (surgem já no estágio invasor). Nota-se, também, mitoses, queratinização, e células epiteliais escamosas atípicas.
Pérolas córneas abundantes em carcinoma bem diferenciado.
Pérolas córneas mais escassas, em carcinoma moderadamente diferenciado.
  • Os sintomas tendem a surgir apenas quando o carcinoma já é invasor. Eles estão relacionados à infiltração local de estruturas e órgãos (por continuidade na traqueia e por contiguidade na tireoide e no esôfago).
    • A infiltração do esôfago pode formar fístulas, que facilitam infecções bacterianas secundárias e pneumonias aspirativas.
    • No tumor glótico, a manifestação inicial é a rouquidão, que evolui para disfonia e disfagia. Tardiamente, há dor cervical e linfonodos cervicais palpáveis, fixos, e endurecidos. Já o tumor piriforme apresenta poucos sintomas. Além disso, todos eles apresentam sintomas inespecíficos, como perda de peso.
  • Metástases à distância são raras e tardias, e normalmente hematogênicas. Já as metástases linfáticas costumam ser para linfonodos cervicais, e mais raras em tumores glóticos.
  • Epidemiologia: especialmente homens de 50-60 anos. Tem ocorrido com mais frequência também em pessoas mais jovens, por conta do HPV.
  • Prognóstico: dependente do estadiamento (sistema TNM – tumor, linfonodos, metástases).
Metástase cervical de carcinoma da laringe.

Carcinoma broncopulmonar

  • Definição: neoplasia maligna epitelial com origem primária no pulmão.
  • Mais de 90% das neoplasias malignas primárias de pulmão são de origem epitelial (carcinomas).
  • Principais etiologias: tabagismo, aspiração de asbesto, radiação, poluição ambiental, e genética.
  • Patogênese: a agressão ao conteúdo genético de células epiteliais imaturas progenitoras gera lesões, podendo haver uma progressão de lesões pré-neoplásicas a lesões neoplásicas. Nesse caso, a sequência é de hiperplasia → metaplasia → displasia → carcinoma in situ → carcinoma invasor.
  • Anatomia patológica:
    • Macroscópica: massa infiltrativa na parede brônquica (central) ou no parênquima pulmonar (periférico).
    • Microscópica: 4 tipos histológicos principais:
      • Central:
        • Carcinoma de células escamosas;
        • Carcinoma de pequenas células;
      • Periférico:
        • Carcinoma de grandes células;
        • Adenocarcinoma.
Massa infiltrativa heterogênea associada à parede brônquica.
Massa infiltrativa heterogênea parenquimatosa próxima à pleura.
  • Sintomas gerais (ocorrem em tumores centrais e periféricos):
    • Sintomas inespecíficos: dispneia, perda de peso, fraqueza, febre baixa;
    • Síndromes paraneoplásicas (mais comuns no carcinoma de pequenas células);
      • Síndrome de Cushing (liberação de molécula semelhante ao ACTH);
      • Hipercalcemia (liberação de molécula semelhante ao ACTH);
      • Síndrome de Trousseau (tromboflebite superficial migratória);
      • Acantose nigricans (hiperqueratose e hiperpigmentação de dobras).
  • Metástases:
    • Líquido pleural (carcinomatose pleural, sempre acompanhada de derrame hemorrágico);
    • Linfática (linfonodos hilares, mediastinais, escalenos, e supraclaviculares cervicais);
    • Hematogênica (suprarrenais, fígado, ossos, SNC).
Metástases hepáticas.
  • Epidemiologia: incide sobre adultos e idosos, com pico entre 55-65 anos. Nos últimos anos, a incidência em mulheres tem aumentado. É o câncer mais letal no Brasil.
  • Prognóstico: depende do grau histológico, do tipo histológico (o pior prognóstico é do carcinoma de pequenas células), do estadiamento (sistema TNM), e de alterações genéticas específicas.

Tumor central

Fisiopatologia e semiologia

  • Mantém-se assintomático por certo tempo, evoluindo para tosse seca com hemoptise (ulceração de vasos peribrônquicos).
  • Tende a obstruir os brônquios. Se a obstrução é total, ocorre atelectasia reabsortiva. Se é parcial, ocorre hiperinsuflação por mecanismo de válvula.
  • A dificuldade de drenagem gera acúmulo de secreções, que facilita infecções de repetição.
  • A invasão de estruturas mediastinais gera pericardite e/ou síndrome de veia cava superior.
Síndrome de veia cava superior.

Diagnóstico

  • A tomografia computadorizada de tórax oferece melhor visualização que a radiografia.
  • Citologia oncótica do escarro tem baixo custo, mas é pouco sensível.
  • O método de escolha é a broncoscopia com biópsia.
A tomografia permite a visualização axial, que permite melhor discernimento de massas centrais.
Tumor central visto à broncoscopia. Angiogênese e aspecto hemorrágico evidenciam malignidade.

Tumor periférico

Fisiopatologia e semiologia

  • Mantém-se assintomático por muito tempo. Quando gera sintomas, estes estão relacionados à invasão pleural (dor pleurítica, derrame hemorrágico). No entanto:
    • Invasão da costela e da coluna vertebral geram outros sintomas;
    • Um tumor no ápice pulmonar (tumor de Pancoast) pode infiltrar o pescoço, o plexo braquial, e o plexo simpático cervical, gerando a síndrome de Horner (ptose, miose, e anidrose).
  • Tem menor associação com tabagismo que os tumores centrais.

Diagnóstico

  • São tumores visíveis à radiografia, mas a tomografia permite detecção mais precoce.
  • Citologia oncótica do escarro tem baixo custo, mas é pouco sensível (menos ainda que ao tumor central).
  • Broncoscopia precisa ser realizada com lavado bronco-alveolar, a ser submetido à análise citopatológica.
  • Idealmente, deve-se fazer biópsias:
    • Biópsia a céu aberto: muito invasiva;
    • Biópsia transtorácica guiada por TC: ideal, mas ainda pouco disponível.
  • Caso seja feita toracocentese, pode ser realizada a citologia oncótica do líquido pleural.
Radiografia de tumor periférico.
Biópsia de tumor pulmonar guiada por TC.

Tipos histológicos

Carcinoma de células escamosas

  • É o mais frequente.
  • Muito associado ao fumo.
  • Tem o melhor prognóstico.
  • Mais comum em homens.
  • Evolui a partir de metaplasia escamosa (que pode ocorrer por bronquite crônica).
  • Tem células escamosas atípicas com queratinização e pérolas córneas.
Em ordem: epitélio normal, metaplasia escamosa, e carcinoma espinocelular in situ.
Carcinoma epidermoide.
Pérolas córneas em carcinoma escamocelular.

Carcinoma de pequenas células

  • Como o carcinoma de pequenas células é o mais agressivo, seu tratamento é diferente dos demais. Ele costuma ser descoberto quando já há metástase, não havendo, portanto, possibilidade de cirurgia. Todavia, ele responde à quimioterapia, embora a resposta não seja duradoura.
  • Corresponde a 2% dos carcinomas broncopulmonares.
  • Mais comum em homens idosos.
  • Muito associado ao tabagismo.
  • Formado por células descoesas (não formam glândulas, ninhos, ou trabéculas). Seus núcleos são volumosos e hipercromáticos (com alta afinidade por hematoxilina), com alto volume de mitoses, mas o citoplasma é escasso.
  • Forma regiões de necrose geográfica.
Carcinoma de pequenas células.
Carcinoma de pequenas células.
Necrose geográfica.

Carcinoma de grandes células

  • Mais raro dos carcinomas broncopulmonares.
  • Muito agressivo, de evolução rápida.
  • Suas células são volumosas e com citoplasma abundante. Os núcleos são grandes, com nucléolos evidentes. Chegam a formar ninhos, mas não glândulas ou regiões de queratinização.
Carcinoma de grandes células.
Carcinoma de grandes células.
Carcinoma de grandes células.

Adenocarcinoma

  • Segundo carcinoma mais frequente, mas sua incidência tem aumentado nos últimos anos.
  • Mais comum em mulheres.
  • Carcinoma broncopulmonar mais frequente em não fumantes.
  • Caracterizado por formação de glândulas atípicas, que podem produzir muco.
Adenocarcinoma.
Adenocarcinoma.
Adenocarcinoma.

Metástases pulmonares

  • Definição: neoplasias secundárias no pulmão, disseminadas por via hematogênica.
    • Como o pulmão recebe toda a drenagem venosa da circulação sistêmica, ele é o destino mais comum das metástases hematogênicas.
  • Anatomia patológica:
    • Macroscópica: múltiplos nódulos parenquimatosos (preferencialmente periféricos), de limites bem definidos. As áreas centrais tendem a ser necróticas ou necro-hemorrágicas.
    • Microscópica: depende do tumor primário (carcinoma, sarcoma, melanoma).
  • Principais origens: mamas, trato gastrintestinal, órgãos genitais, pulmões.
  • Sintomas:
    • Tosse;
    • Dispneia;
    • Derrame pleural;
    • Perda de peso;
    • Sintomatologia do tumor primário.
Nódulos metastáticos em pulmão. O aspecto necrótico é mais visível nos maiores nódulos.
Nódulos metastáticos em pulmão.
  • Imagem: múltiplos nódulos bilaterais bem definidos, com aspecto de “bala de canhão”.
Radiografia de metástase pulmonar.
Tomografia de metástase pulmonar.
Tomografia de metástase pulmonar.

Referência(s)

Aula do professor Renato Laboissiere.


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