Aneurismas são dilatações arteriais patológicas. No caso dos aneurismas congênitos, o indivíduo não nasce com um aneurisma, mas sim com uma fragilidade vascular que predispõe, ao longo do tempo, a formação de aneurismas.
Etiologias do AVE hemorrágico
- HAS;
- Aneurisma cerebral (80%);
- Malformações vasculares:
- Arteriovenosas;
- Fístula dural;
- Cavernoma;
- Dissecção arterial;
- Angiopatia amiloide;
- Distúrbio de coagulação;
- Indeterminada (10%).
Tipos de aneurismas cerebrais
- Saculares:
- Congênito;
- Micótico;
- Associado a malformação arteriovenosa;
- Fusiforme (aterosclerose);
- De Charcot-Bouchard (HAS);
- Dissecante;
- Traumático.
Epidemiologia
- 0,2-7,9% da população possui à autópsia;
- São múltiplos em 20% dos casos;
- Desenvolvem-se em qualquer idade, mas o sangramento ocorre principalmente entre 50-60 anos;
- Associam-se a:
- Doença do rim policístico;
- Displasia fibromuscular;
- Doença do tecido conjuntivo;
- Síndromes familiares (1% dos casos).
Ruptura
- O sangramento ocorre a qualquer momento, sendo:
- 1/3 durante o sono;
- 1/3 durante atividades habituais;
- 1/3 durante esforço.
- Fatores de risco:
- Tabagismo;
- HAS;
- Uso de cocaína;
- Aneurisma grande (principal).
Quadro clínico
- Caso não se rompa, o aneurisma é completamente assintomático.
- O sangramento oriundo da ruptura do aneurisma pode ser drenado para o espaço subaracnoide, ventrículos, ou parênquima cerebral. Independentemente da drenagem, provocara SHIC e irritação neuronal, podendo causar também:
- Irritação meníngea (espaço subaracnoide);
- Lesão neuronal (parênquima).
- Sintomas são súbitos:
- SHIC:
- Cefaleia (frequente);
- Vômitos;
- Coma;
- Convulsões;
- Irritação meníngea:
- Rigidez nucal;
- Febre;
- Lesão neuronal: déficits focais.
- SHIC:
Diagnóstico
Confirmação da hemorragia
- TC: sensibilidade de 95% no primeiro dia, e 50% no sétimo (reabsorção do sangue), devendo, portanto, o diagnóstico ser precoce.
- Punção lombar: caso a TC seja negativa, mas haja suspeita clínica de sangramento anterior, a punção lombar revelará resquícios de sangue.
Investigação da etiologia
- Exames disponíveis:
- Angio TC: permite estudo detalhado dos vasos, com visualização de dilatações aneurismáticas;
- Angio RM: idem;
- Angiografia: cateterismo.
Angio TC | Angio RM | Angiografia | |
---|---|---|---|
Invasivo | Não | Não | Sim |
Uso de contraste | Sim | Não | Sim |
Custo | Baixo | Intermediário | Alto |
Sensibilidade | 95% | 95% | 99,9% |
Tempo para realização | Baixo | Intermediário | Alto |
- Indicações:
- Investigação de hemorragia subaracnoidea espontânea: angio TC ou angiografia;
- Angio TC negativa, com alta suspeita clínica: angiografia;
- Pesquisa de aneurisma familiar: angio RM.
Aneurisma roto
História natural
Sangramento
- 10-15% dos pacientes falecem antes do atendimento.
- Dos que sobrevivem ao sangramento, a chance de ressangramento é:
- 4% no primeiro dia;
- 1,5% ao dia nos primeiros 13 dias;
- 30% no primeiro mês;
- 50% nos primeiros 6 meses.
- Dos que ressangram, 45% morrem.
Vasoespasmo cerebral
- Após o sangramento, a parede das artérias reage ao sangue subaracnoide, com alterações na histologia:
- Espessamento da adventícia;
- Presença de células inflamatórias;
- Necrose da camada muscular;
- Espessamento da íntima (proliferação muscular).
- Ocorre em 3-14 dias do sangramento, com manifestações clínicas em 20-30% dos pacientes e angiográficas em 30-70%.
- Leva a isquemia em 30% dos casos.
- Fatores de risco:
- Grande volume de sangue subaracnoide;
- Idade avançada;
- Tabagismo;
- HAS;
- Doença clinicamente grave.
- A classificação de Fisher determina o risco de o paciente desenvolver vasoespasmo cerebral:
Grau | Sangue na TC | Risco |
---|---|---|
1 | Ausente | Baixo |
2 | Difuso ou com espessura < 1 mm | Baixo a moderado |
3 | Localizado e/ou com espessura > 1 mm | Moderado |
4 | Intraparenquimatoso ou intraventricular, com ou sem sangue subaracnoide | Baixo |
- O quadro clínico é de piora neurológica rápida e progressiva entre 3-14 dias do sangramento, após exclusão de causas sistêmicas.
- Propedêutica:
- TC de crânio (principal);
- Doppler transcraniano;
- RM com perfusão;
- Angiografia.
Tratamento
Tem por objetivos evitar o ressangramento e prevenir e/ou reduzir danos do vasoespasmo.
Ressangramento
- Abordagem endovascular (embolização);
- Abordagem cirúrgica (clipagem), mais indicada a aneurismas maiores.
Vasoespasmo cerebral
- O paciente deve ter parâmetros clínicos (temperatura, natremia, e hidratação) cuidadosamente monitorizados.
- Administra-se nimodipina 60 mg VO de 4/4 hrs.
- Induz-se hipertensão e hipervolemia (terapia dos 2 H’s) para evitar consequências deletérias de isquemia cerebral.
- Caso medidas clínicas falhem, realiza-se angioplastia (sem stent) endovascular. É uma urgência, pois os melhores resultados são obtidos até 12 h após o início dos sintomas.
Prognóstico
- Vasoespasmo leva a morbidade importante em 7% dos pacientes, e a óbito em 7%;
- 30% dos sobreviventes apresentarão déficits de moderado a importante;
- Após tratamento, a mortalidade final é de 45% (entre 32-67%), por deterioração neurológica, vasoespasmo, e/ou complicações sistêmicas.
Aneurisma não roto
Chance de ruptura relaciona-se principalmente ao tamanho do aneurisma. Considerando riscos e benefícios, a conduta, em geral, é:
- < 5 mm: acompanhamento com angio RM;
- > 7 mm: tratamento endovascular ou cirúrgico, especialmente se 10 mm.
Entre 5-7, a conduta deve ser mais individualizada.
Referência(s)
Aula do professor Alexandre Varella Giannetti.