Antibioticoprofilaxia em cirurgia: quando indicar? Quais medicamentos utilizar?

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Conceito

Profilaxia consiste na prevenção de infecções. Pode ser:

  • Primária: prevenção da infecção inicial;
  • Secundária: prevenção da recorrência de uma infecção recorrente.

É diferente do tratamento ou erradicação, em que o objetivo é a cura de uma infecção já instalada.

Uso em cirurgia

O uso de antibióticos profiláticos em cirurgia visa a prevenção de infecções de sítio cirúrgico. Contudo, não dispensa o uso de outras medidas preventivas de infecções. Devem, ainda, ser bem indicados, levando em conta riscos (ex.: efeitos colaterais, seleção de micro-organismos resistentes) e custos.

Administração

Conforme o peso do paciente, o antibiótico deve ser administrado nos seguintes momentos:

  • Pré-operatório: no mínimo 60-120 min antes da incisão, de acordo com o início de ação (ex.: vancomicina e quinolonas são mais lentas);
  • Peroperatório: a depender da duração da operação e da meia-vida do antibiótico (se a cirurgia durar mais de 2 meias-vidas ou tiver hemorragia volumosa);
  • Pós-operatório: deve ser mantido apenas em situações selecionadas.

Manter a antibioticoprofilaxia apenas durante o pré e o peroperatório tem menor custo e menor toxicidade, mas não é apropriado para cirurgias como implantes de prótese, operações cardíacas, cirurgias colorretais, e apendicectomias. Nesses casos, o antibiótico deve ser mantido pelas 24 primeiras horas de pós-operatório. Estender seu uso excessivamente é contraproducente.

Escolha do antimicrobiano

Normalmente, emprega-se cefalosporinas de 1ª geração (cefazolina, cefalotina), pois:

  • São bactericidas contra as principais bactérias causadoras de infecção de sítio cirúrgico (estafilococos e estreptococos);
  • Boa penetração em vários compartimentos do organismo;
  • Boa tolerabilidade e ampla faixa terapêutica;
  • Infrequente indução de resistência microbiana;
  • Facilidade de administração (bolus);
  • Baixo custo.

Apesar disso, ela não possui boa cobertura contra organismos gram-negativos e/ou anaeróbios.

Outros antimicrobianos utilizados incluem:

  • Ciprofloxacino;
  • Clindamicina: pacientes alérgicos a beta-lactâmicos;
  • Metronidazol: eficaz contra anaeróbios;
  • Gentamicina: eficaz contra gram-negativos;
  • Vancomicina: reservada a microorganismos resistentes.

Recomendações mais específicas estão disponíveis nesta diretriz.

Cirurgias limpas e potencialmente contaminadas

Cirurgias limpas são aquelas em que não há abertura de vísceras ocas (contato apenas com a flora da pele), enquanto o manuseio do TGI dá à cirurgia o potencial de contaminação (contato com gram-negativos e/ou enterococos). Em cirurgias contaminadas ou infectadas, não há que se falar em profilaxia, mas sim em tratamento.

Indicações

Cirurgias potencialmente contaminadas requerem antibioticoprofilaxia, mas cirurgias limpas também podem exigi-la em caso de:

  • Inserção de próteses;
  • Transplantes de órgãos;
  • Internação prolongada;
  • Cirurgias de grande porte em pacientes idosos, diabéticos, imunodeficientes, desnutridos, obesos, de insuficiência renal crônica, em quimioterapia e/ou radioterapia, etc;
  • Pacientes com cardiopatias congênitas, valvopatias, ou próteses valvares;
  • Operações sobre aorta e grandes vasos;
  • Craniotomias;
  • Cirurgias com grandes áreas de descolamento;
  • Cirurgias em áreas esteticamente nobres, em que uma infecção causaria grande comprometimento;
  • Colecistectomias laparoscópicas:
    • De urgência, reoperações, e/ou prolongadas;
    • Em pacientes diabéticos, acima de 70 anos, e/ou ASA 3;
    • Em caso de ruptura da vesícula ou conversão para cirurgia aberta;
  • Cirurgias das vias biliares e/ou pâncreas:
    • Para coledocolitíase;
    • Em pacientes > 65 anos;
    • Em caso de icterícia obstrutiva, colangite prévia, ou colecistite aguda;
  • Abdome agudo;
  • Esplenectomia;
  • Pacientes colonizados por MRSA (profilaxia com vancomicina).

Referência(s)

Aula do professor Vítor Nunes Arantes.


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