Classificação de níveis de cirurgia
Se dá em função do pessoal disponível, da necessidade de anestesia e/ou de hospitalização, da sala de operações, e do material e do equipamento. São os níveis de cirurgia:
- Nível I: apenas o cirurgião (sem anestesista) está presente, o paciente permanece apenas durante a operação.
- Nível II: procedimentos anestésicos mais complexos requerem a presença de um anestesista. Não há necessidade de internação, mas o paciente fica em observação por um período (sala de recuperação pós-anestésica).
- Níveis III e IV: cuidados especiais no pós-operatório demandam internação hospitalar.
Cirurgia ambulatorial
Procedimentos de níveis I e II podem ser realizados em ambiente ambulatorial, independentemente do tipo de anestesia empregado.
São candidatos à cirurgia ambulatorial pacientes:
- Hígidos, ou com distúrbios sistêmicos leves;
- Sem necessidade de cuidados especiais no pós-operatório;
- Que tenham um acompanhante adulto, lúcido, e identificado;
- Com condição psicológica e socioeconômica de realizar em casa os cuidados pós-operatórios.
Observa-se uma tendência mundial de aumento dos procedimentos ambulatoriais. No Brasil, eles são regulados por portarias do CFM (resolução 1363/93) e da Anvisa (RDC 50), e devem oferecer a mesma qualidade e segurança de procedimentos oferecidos em unidades de internação. Vantagens da não internação hospitalar que justificam essa tendência incluem:
- Redução do risco de infecção hospitalar;
- Retorno precoce ao trabalho;
- Maior aceitação do paciente e redução da ansiedade pré-operatória;
- Ampliação da cobertura da população e bom custo-benefício.
Por outro lado, algumas desvantagens da cirurgia ambulatorial incluem:
- Possibilidade de não cooperação do paciente com as instruções pós-operatórias;
- Preocupações do paciente quanto ao atendimento médico no pós-operatório.
Suporte extra-ambulatorial
Qualquer procedimento precisa de suporte no pré-operatório, no peroperatório, e no pós-operatório.
Pré-operatório
Período que compreende desde a indicação cirúrgica até o momento da cirurgia em si. Em procedimentos de nível I, a anamnese e o exame físico normalmente são suficientes para indicar o início da cirurgia. Já no nível II, podem ser necessários exames complementares (obs.: em mulheres em idade reprodutiva é sempre indicado um hemograma). O objetivo é avaliar estado nutricional, doenças hemorrágicas, uso de medicamentos, alergias, e outras condições que aumentem o risco anestésico-cirúrgico, mesmo que a cirurgia seja realizada em caráter urgente. Não se realiza cirurgias eletivas durante a vigência de infecções.
A avaliação deve ser descrita precisamente no prontuário, incluindo localização exata, macroscopia, dimensões de lesões, e, caso o paciente autorize, fotografias. Também é importante que o paciente seja adequadamente informado no termo de consentimento livre e esclarecido, a ser assinado antes do procedimento, exceto em situações de iminente risco de morte.
Geralmente, caracteriza-se os pacientes em três níveis básicos:
- Sem risco especial;
- Com risco:
- Pequeno;
- Médio;
- Alto;
- Sem condições cirúrgicas (mesmo que tenha indicação, não suportaria a cirurgia).
Já a classificação mais específica, da American Society of Anesthesiology (ASA), correlaciona-se com a mortalidade perioperatória, permite modificações no plano cirúrgico e perioperatório conforme os riscos ao qual cada paciente está submetido, e classifica os pacientes em:
- ASA I: saudáveis;
- ASA II: com doença sistêmica leve ou moderada, sem limitação funcional;
- ASA III: com doença sistêmica grave, com limitação funcional;
- ASA IV: com doença sistêmica grave, representando risco de vida constante;
- ASA V: moribundos, com perspectiva de óbito em 24 h, com ou sem cirurgia;
- ASA VI: com morte cerebral, mantidos em ventilação controlada e perfusão para doação de órgãos;
- ASA -E: acrescenta=se o “E” à classificação para sinalizar cirurgias emergenciais.
Para pacientes mais graves e cirurgias de maior porte, existem escalas mais complexas.
Também no pré-operatório o paciente deve receber as orientações necessárias para cuidado per e pós-operatório, e ter suspensas as medicações necessárias (em geral, anticoagulantes orais).
Por fim, checklists de segurança também devem ser seguidos nesta fase do cuidado cirúrgico.
Peroperatório
Período compreendido entre o início e o término da cirurgia, durante o qual podem haver complicações, para as quais é preciso haver um plano de contingência (que pode envolver centros de referência).
Pós-operatório
Período que se inicia no término do procedimento cirúrgico e se encerra no retorno do paciente às suas atividades habituais.
Critérios de alta
Em cirurgias de níveis I e II o paciente, para ser liberado, deve estar, entre outros:
- Orientado no tempo e no espaço;
- Com sinais vitais há, pelo menos, 60 minutos;
- Sem náusea e vômitos;
- Sem dificuldade respiratória;
- Capaz de ingerir líquidos;
- Capaz de se locomover como antes, se a cirurgia assim permitir;
- Com sangramento ausente ou mínimo;
- Sem dores importantes;
- Sem retenção urinária.
Referência(s)
Aula do professor Luiz Ronaldo Alberti.