Manejo de vias aéreas: ventilação invasiva e não invasiva

Compartilhe com seus amigos

  • 9 meses atrás
  • 6minutos

Manejo do paciente grave

Paciente não se move

Potencialmente inconsciente ou em PCR.

  1. Verificar segurança da cena;
  2. Chamar ajuda;
  3. Buscar o DEA (se sozinho/sem ajuda);
  4. Fazer CAB:
    1. Circulation;
    2. Airway;
    3. Breathing.

Paciente se move

Não está em PCR, objetivo é identificar e tratar causas que podem levar à PCR.

  1. Fazer ABCDE:
    1. Airway;
    2. Breathing;
    3. Circulation;
    4. Disability: Glasgow ou AVDI:
      1. Alerta;
      2. Voz;
      3. Dor;
      4. Inconsciente;
    5. Exposure.
  2. Pedir que o ajudante faça MOV2:
    1. Monitorizar (SpO2, ECG contínuo de 5 derivações, PA inicialmente não invasiva);
    2. Oxigenioterapia (deixar dispositivos prontos);
    3. Veias (se for necessário fazer volume, 2 acessos calibrosos, Jelco 14-16, mas, se não for, apenas 1 acesso qualquer, Jelco 18-22);
    4. Vácuo (aspirar cavidade oral).
  3. Anamnese direcionada: SAMPLE:
    1. Sinais e sintomas;
    2. Alergias;
    3. Medicações em uso;
    4. Patologias prévias/Pregnancy;
    5. Last meal;
    6. Evento.
  4. Solicitar exames:
    1. ECG de 12 derivações;
    2. Glicemia capilar;
    3. Exames direcionados à clínica.

Ventilação não invasiva

A PCR é causada por falha de ventilação, não de IOT. Portanto, embora a IOT seja ideal (via aérea definitiva), não pode ser a única opção.

Oxigenação

  • Oferta de oxigênio deve ser titulada de forma a ofertar o mínimo necessário para o paciente manter saturação adequada:
    • Em pacientes saudáveis: ≥ 95% (tolera-se ≥ 92%);
    • Em DPOCíticos: 88-92%.
  • FiO2 (fração inspirada de oxigênio): porcentagem/concentração de oxigênio no ar que está sendo inspirado. O fluxômetro/concentrador fornece O2 virtualmente a 100%.

Ventilação por cânula nasal

  • Primeira técnica a ser tentada.
  • Deve ser posicionada segundo a técnica “óculos-gravata”.
  • O fluxômetro oferece O2 a 100%, enquanto o ar ambiente tem cerca de 22%. Como o cateter não oclui a via aérea, há mistura de ares, de modo que cada L de O2 no fluxômetro aumenta a FiO2 em 3-4%. O cateter tolera até 6 L/min (a partir de 4 L/min, deve-se também empregar umidificador com ABD), com resultado de FiO2 máxima de cerca de 45%. Por isso, é inapropriado se SpO2 < 88%.
  • A cânula nasal de alto fluxo (CNAF) é uma alternativa que tolera até 60 L/min, e faz pressão positiva, prevenindo atelectasia.

Ventilação por máscara não reinalante

  • Feita com Ambu, cujo nome técnico é dispositivo bolsa-válvula-máscara. Possui 2 válvulas: uma garante fluxo unidirecional, outra limita a pressão que pode ser administrada a 60 mmHg (previne barotrauma)
  • Critérios de ventilação difícil:
    • Barba;
    • Edentulação;
    • Anormalidades craniofaciais;
    • Retrognatismo;
    • Distância tireo-mentoniana < 6 cm;
    • Macroglossia;
    • Mallampatti 3 ou 4;
    • AOS.
  • Parâmetros de ventilação:
    • Frequência: na VPP, uma FR elevada prejudica hemodinâmica às custas do retorno venoso, então, em adultos, deve ser de 10 irpm (1 ventilação a cada 6 seg);
    • Pressão: o Ambu tem a válvula ALP/pop-off para limitar a pressão a 60 mmHg, o que evita barotrauma, mas não aspiração (pressão de abertura do esfíncter esofágico é de 15 mmHg). Isso é uma avaliação subjetiva: o tórax não pode insuflar demais. Além disso, alguns pacientes precisarão de pressões entre 15-60 mmHg (ex.: obesos, em broncoespasmo), apesar do risco. Para esses, é preferível intubação em sequência rápida a VPP;
    • Volume: pacientes devem receber um volume de 6-8 mL/kg do peso ideal (por volta de altura – 100 cm para homens e altura – 105 cm para mulheres, num total de 500 e 450 mL respectivamente). Como o Ambu tem 3L em formato circular, basta pressionar cerca de 1/3 dele.
  • Situações especiais:
    • DPOC: não pode ser ofertada uma FiO2 muito elevada, por risco de carbonarcose;
    • Intoxicação por CO: ocorre em incêndios. A oximetria e a gasometria do paciente são normais, devendo ser diagnosticada pela história clínica ou por dosagem de CO dissolvido no sangue. O tratamento é com O2 a 100% por máscara não reinalante a 10 L/min;
    • Intoxicação por cianeto: também ocorre em incêndios. Paciente terá hiperlactatemia, mas continuará clinicamente estável. Tratamento é com hidroxicobalamina.

Desobstrução da via aérea

Pode-se ouvir roncos no paciente que já está ventilado e com boa saturação. Isso indica obstrução, sendo a língua a mais frequente. Para isso, emprega-se:

  • Chin-lift (contraindicada a pacientes com trauma cervical ou suspeita);
  • Jaw-thrust;
  • Cânula de Guedel (contraindicada a pacientes conscientes, com reflexo de tosse e vômito preservados);
  • Cânula nasofaríngea (alternativa à Guedel para pacientes conscientes, mas não pode-se inserir nada na nasofaringe de pacientes com trauma de base de crânio ou suspeita).

Intubação

Indicações

Presença de qualquer uma das seguintes já é suficiente para indicar IOT:

  • Paciente não protege via aérea (Glasgow ≤ 8);
  • Manter ventilação ou oxigenação;
  • Instabilidade hemodinâmica ou PCR;
  • Insuficiência respiratória (hipoxêmica ou hipercápnica) refratária;
  • Grandes queimados;
  • Anestesia geral;
  • Espera-se alguma dessas indicações na evolução clínica.

Complicações

Risco aumenta a cada tentativa falha.

  • Hipóxia;
  • Intubação esofágica;
  • Bradicardia;
  • PCR;
  • Regurgitação.

Tentativa ótima

  • Profissional experiente: tem sucesso em 1 tentativa em 85-90% das vezes (estima-se necessidade de 118-188 tentativas até que o profissional chegue nesse estágio);
  • Tônus muscular insignificante (bloqueio neuromuscular);
  • Pressão laríngea externa ótima ou manobra de BURP;
  • Tipo e tamanho de lâmina adequados;
  • Posição adequada da cabeça.

Intubação em sequência rápida: 7 P’s

Preparação

  1. Avaliar via aérea:
    1. Mnemônico Lemon:
      1. Look externally;
      2. Evaluate distances (regra 3-3-2);
      3. Mallampatti;
      4. Obese/Obstruction;
      5. Neck mobility;
    2. Critérios de intubação difícil:
      1. Intubação difícil prévia;
      2. Distância interincisivos < 4 cm (3 dedos);
      3. Distância tireo-mentoniana < 6 cm (3 dedos);
      4. Distância tireo-hioidea < 2 cm (2 dedos);
      5. Distância mento-esternal < 12 cm;
      6. Extensão da cabeça reduzida;
      7. Mallampatti 3 ou 4;
      8. Protusão mandibular limitada;
      9. Pescoço largo;
      10. Redução da complacência do espaço submandibular (ex.: RDT prévia).
  2. Separar e testar materiais.
  3. Fazer MOV2.
  4. Estabilizar paciente antes da indução.

Pré-oxigenação

Fornecer O2 a 100% por 3-5 min, lembrando que obesos dessaturam mais rapidamente.

Pré-tratamento

Analgesia:

  • Evitar broncoespasmo: lidocaína 1-1,5 mg/kg (início de ação em 45-60 seg);
  • Redução da resposta simpática: fentanil 3-5 mcg/kg (início de ação em 1-2 min).

Paralisia com indução

  1. Indução:
    1. Estabilidade hemodinâmica: etomidato 0,3 mg/kg (20 mg/10 mL);
    2. Broncodilatação: cetamina 1,5 mg/kg (100 mg/2 mL);
    3. Anticonvulsivante: midazolam 0,2-0,3 mg/kg (15 mg/3 mL);
    4. Vasodilatação e depressão miocárdica: propofol 2-3 mg/kg (10 mg/mL).
  2. Paralisia:
    1. Despolarizante: succinilcolina 1,5 mg/kg (início 30-45 seg, término 10 min);
    2. Adespolarizante: rocurônio 1,5 mg/kg (início 30-45 seg, término 40 min).

Posicionamento

Posição olfativa (fonte).

Passagem do tubo

Nesta etapa, a via aérea também pode se mostrar difícil:

Classificação do Cormack-Lehane (fonte).

Para facilitar a laringoscopia, existem 2 manobras:

Manobra de Sellick, que tem caído em desuso (fonte).
Manobra de BURP: backward, upward, rightward pressure (fonte).

Pós-intubação

  1. Insuflar o balonete;
  2. Fixar o tubo (ex.: micropore);
  3. Verificar pressão aplicada com com cufômetro para evitar estenose de traqueia (ideal: 3-5 cmH20);
  4. Auscultar (verificar ventilação seletiva);
  5. Configurar ventilação;
  6. Solicitar RX de tórax.

Alternativas em caso de falha

Apenas a IOT, a cricotireodotomia, e a traqueotomia são vias aéreas definitivas. No entanto, alternativas podem salvar vidas em contextos emergenciais, e mesmo em outros contextos. Se o paciente estiver em jejum, a máscara laríngea é adequada por até 6 h.

Fonte.

Referência(s)

Aulas das professoras Maria Júlia Spini Logato e Michelle dos Santos Severino Costa.


Compartilhe com seus amigos