A HAS (definida na gestação PAS > 140 e/ou PAD > 90 mmHg) como é a doença que mais frequentemente complica a gravidez, acometendo 5-10% ddas gestações, com significante morbimortalidade materna e neonatal.
Definições
- HAS crônica: hipertensão registrada antes da 20ª semana de gestação ou após 12 semanas do parto. A menos que houvesse dano renal anterior à gravidez, não se associa a proteinúria. Persiste depois de 12 semanas de pós-parto;
- HAS gestacional: aumento da PA que ocorre após a 20ª semana de gestação (pode acontecer antes em gestação molar) ou em até 12 semanas após o parto, sem proteinúria. A PA normaliza após a 12ª semana de pós-parto, mas recorre em 80% das gestações subsequentes;
- Pré-eclâmpsia (PE): HAS em gestante previamente normotensa, acompanhada de algum dos seguintes sintomas:
- Proteinúria ≥ 300 mg em 24 h ou ≥ 1+ em fita;
- Comprometimento de órgãos-alvo (plaquetas < 100 mil, creatinina > 1,1 mg/dL ou 2x VR [na ausência de outra doença renal], e/ou aumento de enzimas hepáticas 2x VR);
- Descontrole pressórico, marcado por algum dos seguintes:
- Necessidade de aumento progressivo de doses de anti-hipertensivos;
- Sintomas sugestivos de PE (cefaleia refratária a analgesia com tramadol, dificuldades visuais, dor epigástrica ou em quadrante superior do abdome);
- Aumento rápido do peso (> 500 g/semana);
- Diminuição do movimento fetal, sangramento vaginal, e outros sinais de parto prematuro;
- Eclâmpsia: PE complicada por convulsões não atribuíveis a outras causas;
- PE sobreposta à HAS crônica: sinais e sintomas de PE em gestantes previamente hipertensas.
Diferenciação entre distúrbios crônicos e gestacionais
- Quando a gestante tem sua 1ª consulta após a 20ª semana, está hipertensa, e não sabe informar se era hipertensa antes, um diagnóstico de HAS é mais provável (mesmo em presença de proteinúria) quando:
- Uricemia < 4,5 mg/dL;
- A gestante não é primigesta;
- O pai é o mesmo da 1ª gestação.
- PE sobreposta a HAS crônica e descompensação da HAS de base se confundem. Se não houver certeza, deve-se tratar como PE, que é mais grave.
Fatores de risco
- Primiparidade;
- DM;
- Gestação gemelar;
- História familiar de PE em mãe, avó, ou irmã;
- HAS crônica;
- PE em gestação previa;
- Hidropsia fetal não imune;
- Gestação molar;
- Nova paternidade;
- Idade materna > 35 anos;
- IMC > 25,8 na primeira consulta pré-natal;
- Aborto prévio;
- Ganho excessivo de peso;
- Síndrome de anticorpo antifosfolípide.
Fluxograma de diagnóstico e conduta
Particularidades da terapêutica
- A paciente deverá ser hospitalizada, mesmo nos casos leves, pois as complicações podem ser graves e súbitas. Se a gestante não permanecer internada, deverá ser encaminhada ao pré-natal de alto risco.
- O tratamento definitivo da PE é a interrupção da gestação e a retirada da placenta. A decisão por quando interromper a gestação levará em conta a maturidade fetal e o quadro clínico materno. Em geral:
- Da 37ª semana em diante, a interrupção deverá ser sempre realizada;
- Entre 32-34 semanas, pode-se considerar tratamento conservador em unidades especializadas;
- Entre 24-34 semanas, está indicada a administração de corticoides para maturação pulmonar fetal;
- Em mulheres com PE grave, a interrupção sempre deverá sempre ser considerada, independentemente da idade gestacional.
- Após o diagnóstico de PE, o máximo que se pode aguardar antes da interrupção da gravidez é 5 dias, mas mesmo isso aumenta o risco futuro da mãe de HAS e AVE.
- O tratamento antihipertensivo deve ser iniciado quando PA > 150×110 mmHg. Em gestantes adolescentes com PA anterior à gravidez < 90×75 mmHg ou HAS sintomática, admite-se tratamento mais precoce. A meta pressórica é PAS 130-150 e PAD 80-100 mmHg. Diminuição excessiva da PA pode prejudicar o feto pela redução da perfusão placentária.
- Uso de antihipertensivos:
- Seguros:
- Metildopa;
- BCC (especialmente nifedipino, desde que não ultrarrápido);
- Moderadamente seguros:
- Beta-bloqueadores (podem diminuir crescimento fetal, preferir carvedilol);
- Diuréticos tiazídicos (desde que já utilizados pela gestante antes da gravidez e não provoquem depleção de volume);
- Proscritos:
- IECAs;
- BRAs;
- Atenolol.
- Seguros:
- Na gestante hipertensa crônica, está indicada manutenção (não início de) atividade física aeróbica de baixo impacto, 2-3x/semana.
Critérios de gravidade da PE
Determinam urgência clínica, com risco de morte.
- PAS ≥ 160 eou PAD ≥ 110 mmHg;
- Proteinúria de 24 h > 3g;
- Perda progressiva da função renal;
- Disfunção hepática;
- Sinais de hemólise microangiopática;
- Plaquetopenia (< 100 mil);
- Oligodrâmnio;
- Restrição ao crescimento fetal;
- Eclâmpsia ou sinais de eclâmpsia iminente: visão turva, diplopia, escotomas cintilantes, cefaleia, tontura, epigastralgia, confusão mental, perda de consciência;
- Sinais de descompensação cardíaca: cianose, EAP, IC, insuficiência pulmonar;
- Fundoscopia alterada: hemorragia retiniana, exsudatos, edema de papila.
Síndrome HELLP
- Trata-se de complicação grave da PE, causada por vasoespasmo no fígado materno. A sigla significa:
- Hemolysis (esquizócitos no sangue periférico);
- Elevated liver enzimes (LDH > 600, AST > 70, Bb total > 1,2);
- Low platelets (< 100 mil).
- Sintomatologia é pobre, mas inclui:
- Mal-estar;
- Epigastralgia;
- Náuseas e/ou vômitos;
- Anorexia;
- Cefaleia.
- Diagnóstico diferencial:
- Esteatose hepática aguda da gravidez;
- Púrpura trombocitopênica;
- Hepatite viral;
- Síndrome hemolítico-urêmica;
- Glomerulonefrite;
- Hiperêmese gravídica;
- Úlcera péptica;
- Pielonefrite;
- Lúpus;
- Uso de cocaína.
Prevenção
- Em mulheres de risco moderado a elevado de PE, uso de baixas doses de AAS é recomendado, com iniciação entre 12ª e 14ª semanas de gestação e descontinuação na 36ª semana.
- Em mulheres risco de moderado a elevado de PE que tenham baixa ingestão de cálcio, a suplementação oral pode ter efeitos favoráveis.
- Em mulheres com PE, está recomendado o sulfato de magnésio para prevenção de eclâmpsia. Há maior evidência de benefício nas mulheres com PE grave.
Referência(s)
- Aula do professor Augusto Henriques Fulgêncio Brandão;
- MINISTÉRIO DA SAÚDE. Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2012;
- PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Protocolo Pré Natal e Puerpério. 2ª ed. Belo Horizonte: Secretaria Municipal de Saúde, 2019.
- SOCIEDADE BENEFICENTE ISRAELITA BRASILEIRA ALBERT EINSTEIN. Nota Técnica para Organização da Rede de Atenção à Saúde Com Foco na Atenção Primária à Saúde e na Atenção Ambulatorial Especializada – Saúde da Mulher na Gestação, Parto e Puerpério. São Paulo: Hospital Israelita Albert Einstein: Ministério da Saúde, 2019.