Linguagem em psiquiatria: o que é? Como se altera? Como examinar? Como se apresenta nos transtornos mentais?

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  • É um sistema arbitrário de signos que funcionam como um processo intermediário entre o pensamento e o mundo externo.
  • Possui função de:
    • Comunicação social;
    • Expressão de vivências internas;
    • Organização da experiência sensorial e dos processos mentais;
    • Tradução dos estímulos externos;
    • Indicação e descrição das coisas;
    • Transmissão de conhecimentos;
    • Regulação da conduta.
  • Linguagem e pensamento estão intimamente relacionados, mas são fenômenos distintos, tanto que um pode sofrer distúrbios sem afetar o outro.
  • Prosódia: componente afetivo da linguagem, constituída por musicalidade, entonação e inflexões da fala, e gesticulação.

Alterações orgânicas da linguagem

Além das alterações psicopatológicas aqui citadas, a linguagem pode também sofrer distúrbios relacionados exclusivamente ao aparelho fonador, incluindo disartrias, dislalias, disfemias, e disfonias.

Alterações quantitativas

Afasia

Distúrbios da capacidade linguística (na compreensão ou na expressão) que ocorrem na ausência de deficit auditivo ou de incapacidade motora do órgão fonador.

Afasia motora

  • Constitui uma apraxia verbal, em que os pacientes conseguem utilizar os músculos fonadores para outros fins que não a fala.
  • Discurso, emitido com grande dificuldade, caracteriza-se por frases curtas e pela perda da estrutura gramatical. Pacientes cometem erros parafrásicos literais e perda da prosódia.
  • A compreensão da linguagem e a capacidade de nomeação estão preservadas, mas a capacidade de repetição (da fala) está comprometida.
  • Está relacionada a lesões na área de Broca.

Afasia sensorial

  • Agnosia verbal, com perda da capacidade de compreensão da linguagem sem concomitante deficit na audição.
  • O paciente é capaz de falar (fluência), mas não compreende a própria fala.
  • As palavras são pronunciadas de forma defeituosa, há parafrasias literais e semânticas, e a sintaxe pode estar alterada.
  • Capacidades de nomeação e de repetição estão comprometidas.
  • Está relacionada a lesões na área de Wernicke.

Afasia de condução

  • Há fluência, a compreensão é normal, mas a capacidade de repetição e a de nomeação estão comprometidas.
  • Está relacionada a lesões no fascículo arqueado, que conecta a área de Wernicke com a de Broca.

Afasia global

  • A expressão, a compreensão, e a repetição estão comprometidas.
  • Está relacionada a lesões nas áreas de Broca e de Wernicke.

Afasia transcortical

Capacidade de repetição está preservada, mas não há fluência. A capacidade de compreensão pode ou não estar comprometida.

Afasia anômica

Há dificuldade de nomear objetos, mas a expressão, a compreensão, e a repetição são normais.

Agrafia

Incapacidade isolada para escrever.

Alexia

Incapacidade isolada para ler.

Aprosódia

  • Há perda da modulação afetiva da fala, que se torna monótona.
  • Pode haver perda da capacidade de compreender a prosódia alheia.
  • Distúrbio relacionado a lesões no hemisfério direito.

Hiperprosódia

Acentuação da inflexão verbal, com uma fala enfática e loquaz.

Mutismo

  • Significa ausência da fala.
  • Pode expressar negativismo (silêncio deliberado) ou inibição psíquica.

Logorreia

Expressão verbal aumentada: paciente fala o tempo todo e é difícil interrompê-lo.

Oligolalia

Expressão verbal diminuída, que pode ocorrer nas mesmas situações em que ocorre o mutismo.

Hiperfonia

Elevação do volume da voz.

Hipofonia

Diminuição do volume da voz.

Taquilalia

Aumento da velocidade da expressão, correspondente a uma alteração do curso do pensamento.

Bradilalia

Redução da velocidade da expressão, correspondente a uma alteração do curso do pensamento.

Latência da resposta

Refere-se ao tempo que o paciente demora para responder às perguntas do examinador, podendo estar aumentada ou diminuída.

Alterações qualitativas

Ecolalia

Repetição da última ou das últimas palavras faladas por outra pessoa do ambiente, dirigidas ou não ao paciente.

Palilalia

Consiste na repetição involuntária da última ou das últimas palavras faladas pelo próprio paciente.

Logoclonia

Semelhante à palilalia, só que a repetição restringe-se às últimas silabas.

Estereotipia verbal

Repetição monótona, inadequada, e sem sentido comunicativo de palavras ou frases.

Mussitação

  • Paciente fala com uma voz sussurrada, em volume muito baixo e tom monótono, quase sem mover os lábios.
  • Fala para si próprio, e de forma incompreensível.

Neologismos

  • Consistem em palavras novas, criadas pelos pacientes, ou em palavras já existentes, às quais é atribuído um novo significado.
  • Podem ser resultado de uma fusão de conceitos, ou consistir em tentativa de expressar vivências extraordinárias que o vocabulário comum não conseguiria expressar.

Jargonofasia

  • Completa desorganização da linguagem, cuja sintaxe se torna inteiramente incoerente.
  • Palavras reconhecíveis (e, em geral, articuladas corretamente) são emitidas em ordem caótica e ilógica, podendo ser misturadas a neologismos.

Parafrasias

Referem-se à deformação ou troca de palavras.

Parafrasia literal

Palavras são substituídas por outras foneticamente semelhantes (ex.: “faca” por “vaca”).

Parafrasia semântica

Palavras são substituídas por outras semanticamente relacionadas (ex.: “faca” por “garfo”).

Solilóquio

Comportamento de falar sozinho.

Coprolalia

  • Discurso caracterizado pela presença de palavras obscenas.
  • Quando constitui um tique verbal, é uma manifestação típica da síndrome de Tourette.

Glossolalia

Produção de sons ininteligíveis, mantendo os aspectos prosódicos da fala normal.

Maneirismos

Fala pouco natural, seja quanto à escolha das palavras (rebuscamentos, uso excessivo de diminutivos, gírias, ou jargões), à pronúncia, ao sotaque, ou à inflexão verbal.

Pedolalia

Paciente fala com uma voz infantilizada.

Pararrespostas

Respostas totalmente disparatadas em relação às perguntas.

Respostas aproximadas

O paciente, embora compreenda a pergunta e conheça a resposta correta, deliberadamente dá uma resposta errada, mas relacionada à pergunta.

Exame da linguagem

  • Expressão oral e compreensão auditivo-verbal são avaliados de forma informal durante toda a entrevista.
  • Caso testes sejam necessários, alguns estão presentes no miniexame do estado mental.

Linguagem nos principais transtornos mentais

Mania

Paciente fala alto, está logorreico, apresenta taquilalia, hiperprosódia, e diminuição da latência de resposta, podendo apresentar coprolalia.

Depressão

Há oligolalia ou mutismo, bradilalia, hipofonia, e aumento da latência de resposta, podendo ocorrer hipoprosódia ou aprosódia.

Esquizofrenia

  • Podem ocorrer mussitação, solilóquio, jargonofasia, neologismos, maneirismos, pararrespostas, e aprosódia.
  • No subtipo catatônico, pode-se observar mutismo, ecolalia, e estereotipia verbal.

Demência

Pode haver afasias, ecolalia, palilalia, logoclonia, jargonofasia, pararrespostas, e aprosódia.

Transtorno conversivo e transtornos dissociativos

  • Em quadros conversivos, pode haver mutismo ou perda de capacidade de fala normal, estando a fala restrita a sussurros (afonia histérica).
  • Na síndrome de Ganser, observam-se respostas aproximadas.
  • Na puerilidade histérica, há pedolalia.
  • Nos estados de transe psicogênicos, há glossolalia.

Referência(s)

CHENIAUX, Elie, Manual de psicopatologia, 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.


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