⚠️Atenção: esse resumo possui imagens de cadáveres e/ou lesões, que podem causar desconforto

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Na medicina legal, considera-se energias de ordem física aquelas capazes de modificar o estado físico dos corpos.

Temperatura

Calor

Provoca lesões por meio de agentes físicos de temperatura elevada: chamas, calor irradiante, gases superaquecidos, líquidos escaldantes, sólidos quentes, raios solares… Qualquer coisa quente pode provocar lesão por calor.

Queimaduras

Tratam-se de lesões provocadas por ação direta do calor. A maioria é acidental.

A clínica avalia as queimaduras conforme graus (Classificação de Hoffman), representando diferentes profundidades:

• 1º grau: eritema simples, derme íntegra não produz cicatriz;
• 2º grau: vesículas ou flictenas, derme desnuda com ruptura de bolhas (mais dolorosa que na queimadura de 3º grau, pois ainda há preservação da terminação nervosa, que fica exposta);
• 3º grau: coagulação necrótica dos tecidos moles e escarificação, que pode evoluir com crostas pouco diferentes da carbonização (pode ser necessária microscopia para diferenciação). É, por definição, clinicamente grave, pois causa fibrose e, com isso, retração, especialmente perigosa em palmas das mãos, plantas dos pés, e circunferências (ex.: pescoço);
• 4º grau: carbonização, que pode ser superficial (acomete apenas tecido musculoesquelético) ou profunda (acomete vísceras), local ou generalizada. Sinais na carbonização generalizada:
  • Redução de volume corporal por condensação dos tecidos (reduz importantemente peso e altura, dificultando a identificação);
  • Posição do lutador/boxeador: semiflexão dos membros superiores e dedos em garra por redução do volume corpural;
  • Cabelos crestados e quebradiços;
  • Fendas no couro cabeludo (semelhantes a hematomas subdurais) e nas cavidades torácica e abdominal;
  • Pele negra e acartonada;
  • Boca aberta com dentes salientes.

Caso haja numa queimadura regiões de diferentes graus, considera-se o grau mais grave.

Também considera-se a porcentagem de acometimento da superfície corporal (regra dos noves de Pulaski e Tennisson):

Há diferentes metodologias para essa classificação clínica. Para a medicina legal, ela é importante na medida em que ajuda a caracterizar a gravidade do crime de lesão corporal: houve risco de morte? Houve afastamento das funções laborais? Houve inutilização de membro? Entre outros. Dessa forma, lesões clinicamente leves podem ser legalmente graves, e vice-versa.

O prognóstico é amplamente determinado pela idade e pelo acometimento da superfície corporal.

A perícia tem por objetivos:

• Avaliar a gravidade da lesão corporal;
• Em caso de carbonização total, identificar o cadáver;
• Identificar se a queimadura ocorreu in vida ou post mortem:
  • Sinais de respiração:
    • Pesquisa de monóxido de carbono no sangue;
    • Sinal de Moltalti: fuligem nas vias aéreas;
  • Exsudato leucocitário em bolhas na pele, caso ausentes, indicam que são oriundas de putrefação, e não de queimadura;
  • Reações vitais no tecido (ex.: edema das papilas dérmicas, eritema);
• Levantar suspeita de tortura e maus tratos (agravos de notificação compulsória);
• Identificar origem da queimadura:
  • Calor irradiante e gases: proteção pelas vestes;
  • Sólidos aquecidos: marca do objeto no corpo (lesão com assinatura);
  • Chamas: queimaduras de baixo para cima;
  • Líquidos: queimaduras de cima para baixo.

Termonoses

São lesões provocadas pela ação difusa do calor ambiental, incluindo insolações (exposição ao sol provoca sintomas neurológicos) e intermações (também chamadas de exaustões térmicas, ocorrem em ambientes fechados).

Podem ser clinicamente graves, e é raro que sejam criminosas.

Frio

Geladuras

Produzidas por ação localizada do frio. Tem 4 graus, semelhantes aos das queimaduras:

• 1º grau: palidez ou rubefação local (aspecto “em mapa”, com áreas brancas alternadas com áreas eritematosas), pele anserina (de galinha);
• 2º grau: eritema e formação de bolhas;
• 3º grau: necrose de tecidos moles e formação de crostas espessar, aderentes, e enegrecidas;
• 4º grau: gangrena ou desarticulação (pé de trincheira).

Hipotermias

Não provoca lesões típicas, mas pode ser suspeitada quando já rigidez cadavérica mais precoce, intensa, e extremamente demorada.

A maior parte das hipotermias é por acidente. Quando dolosa, é uma causa comum de morte em recém-nascidos abandonados.

Eletricidade

Classificação

• Eletricidade natural:
  • Fulminação: morte provocada por eletricidade natural;
  • Fulguração: lesão corporal provocada por eletricidade natural;
• Eletricidade artificial/industrial:
  • Eletropressão: dano corporal, letal ou não, provocado por eletricidade artificial;
  • Eletrocussão: morte provocada por cadeira elétrica (alguns autores definem como qualquer morte provocada por eletricidade artificial).

Ações da eletricidade

A eletricidade tem efeitos diretos sobre o funcionamento cardíaco e indireta por meio do efeito Joule, que afirma que:

A passagem de uma corrente elétrica através de um condutor determina calor. O calor é proporcional à resistência do condutor, ao quadrado da intensidade, e ao tempo durante o qual passa pelo condutor.

Desta forma, quanto maior a resistência, maior o calor. Locais em que a pele é muito grossa terão queimaduras secundárias à eletropressão, mas locais com a pele mais fina terão poucas lesões externas (embora persistam as internas).

Pode provocar morte por três mecanismos:

• Morte pulmonar: tetanização de músculos respiratórios e fenômenos vasomotores provocam asfixia (periférica);
• Morte cardíaca: fibrilação ventricular (mais comum em pacientes previamente cardiopatas ou arrítmicos);
• Morte cerebral: hemorragia meníngea, bulbar (asfixia central), e medular, edema cerebral grave.

A intensidade da corrente é determinante do mecanismo de morte:

• ≤ 120 v: morte cardíaca;
• 120 – 1200 v: morte pulmonar;
• ≥ 1200 v: morte cerebral e pulmonar.

Lesões típicas

• Sinal de Lichtenberg: patognomônico de eletricidade natural, trata-se de lesão arboriforme decorrente de fenômenos vasomotores. Dura pouco, e, caso tenha havido fulminação, indica que não houve morte instantânea;
• Lesão por arco voltaico: lesões por faíscas eletrizadas em acidentes com altas voltagens;
• Marca elétrica de Jellinek: mais comum em lesões por eletricidade artificial, ocorre na porta entrada da corrente elétrica (comumente a mão). De forma variável, indolor, endurecida, fácil cicatrização, e cor branco-amarelada;
• Queimadura elétrica: resulta de calor produzido por corrente elétrica, sendo escura, endurecida, sem bolhas, e um pouco ulcerada;
• Metalização elétrica: deposição cutânea do metal eletrizado;
• Amputação de membros: secção corporal por altas voltagens e amperagens.

Pressão atmosférica

Provoca lesão quando altera-se. Exemplos:

• Aumento: barotrauma em mergulho;
• Diminuição: patologia das altitudes (podendo ser aguda ou crônica, com poliglobulia compensatória por hipóxia);
• Explosões.

Explosões

O mecanismo básico é:

1. Explosivo sofre reação química;
2. Reação química libera gases;
3. Gases sofrem expansão violenta;
4. Expansão violenta provoca compressão e deslocamento do ar;
5. Compressão e deslocamento do ar gera ondas de pressão.

Os efeitos lesivos sobre o corpo das ondas de pressão são chamados blasts, havendo:

• Blast primário:onda de choque pela transmissão propriamente dita da onda de pressão, lesando órgãos que contenham ar. Quanto mais próximo o indivíduo estiver da fonte, maior será a lesão;
• Blast secundário: estilhaçamento do material explosivo e de objetos próximos, causando lesões, principalmente, pérfuro-cortantes;
• Blastterciário: deslocamento do indivíduo pelo vento explosivo;
• Blast quaternário: lesões não decorrentes das anteriores, como queimaduras e intoxicações.

Por isso, provocam lesões muito distintas em cada indivíduo.

Radioatividade, luz, e som

São energias da alçada da medicina do trabalho, pois provocam, mais frequentemente, lesões àqueles que têm exposição ocupacional a elas.

Referência(s)

Aulas da professora Luciana de Paula Lima Gazzola.