Resumo de medicina legal – Identificação judiciária: reconhecimento, identificação, datiloscopia, e antropologia forense

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Conceitos

  • Reconhecimento: comparação leiga entre a experiência sensorial atual com a experiência passada. Presume, portanto, que houve experiência passada. Qualquer pessoa pode realizá-la, pois é subjetivo. Embora possa ser usado como prova, não pode ser a única, pois memórias são falhas, emoções fortes no contexto de um crime distorcem-nas, e cadáveres mudam post mortem;
  • Identidade: conjunto de caracteres próprios e exclusivos de uma pessoa, incluindo aspectos objetivos (interação fenótipo, genótipo, e meio ambiente) e subjetivos (consciência do indivíduo de ser ele mesmo);
  • Identificação: processo técnico-científico pelo qual se estabelece a identidade objetiva, por meio de sinais físicos (no vivo e no morto), funcionais/laborais, ou psíquicos (apenas no vivo). Pode ser médico-legal (feita por legistas) ou judiciária/policial (feita por peritos em identificação).

Fases

São feitos 2 registros e uma comparação. Sem uma base de comparação, dados prévios, não é possível saber a qual indivíduo correspondem os dados coletados.

Fundamentos dos métodos de identificação

Elementos sinaléticos são os sinais e dados utilizados na identificação. Precisam cumprir a quatro requisitos fundamentais:

  • Unicidade: individualidade, referem-se a algo exclusivo do indivíduo;
  • Imutabilidade: perenidade, não podem se modificar facilmente por tempo ou doenças;
  • Praticabilidade: fácil registro e obtenção, conforme adequação a custos e parâmetros socioculturais;
  • Classificabilidade: fácil arquivamento e recuperação das informações colhidas.

Métodos de identificação

  • Mutilações, cicatrizes, marcas, estigmas, e tatuagens;
  • Relato falado (embora haja método para o desenhista, não haverá para o relator, sendo este, portanto, um método mais falho);
  • Fotografia sinalética (fotografia tirada quando o indivíduo é preso, que segue padrões específicos);
  • Antropometria;
  • DNA (pode não estar íntegro, e tem pouca praticabilidade: no Brasil, só há banco de DNA para estupradores e homicidas, a partir de 2012);
  • Rugopalatoscopia (”impressão digital” do palato duro);
  • Queiloscopia;
  • Poroscopia;
  • Oftalmoscopia;
  • Flebografia;
  • Radiografia de seios paranasais;
  • Análise de voz;
  • Caligrafia;
  • Arcada dentária (muito útil, desde que haja radiografia antiga para servir de base de comparação);
  • Número de série de órteses e próteses;
  • Datiloscopia (cumpre a todos os requisitos fundamentais).

Datiloscopia

Método de identificação mais usado no mundo. Empregado no Brasil desde 1903. Cumprimento dos requisitos por impressões digitais:

  • Unicidade: elementos qualitativos são diferentes mesmo em gêmeos;
  • Imutabilidade: permanecem iguais do 6º mês de vida intrauterina até a fase coliquativa da putrefação;
  • Praticabilidade: coleta rápida, segura, e adequada socialmente (impressões digitais obtidas no âmbito cível são usadas em processos penais);
  • Classificabilidade: possuem 4 tipos fundamentais

Sistema decadactilar/datiloscópico de Vucetich

Baseia-se na disposição das cristas desmopapilares. Há 3 sistemas ou regiões: basilar/basal, marginal, e nuclear. Seu ponto de confluência é o delta.

Há 4 tipos fundamentais de deltas:

  • Presilha externa (E): delta à esquerda do observador;
  • Presilha interna (I): delta à direita do observador;
  • Verticilo (V): dois deltas;
  • Adéltico/Arco (A): sem delta.
Tipos de deltas (fonte).

A partir disso, se forma a fórmula datiloscópica. O numerador/série traz os dedos da mão direita, começando pelo polegar, representado por uma letra. Seguem os demais dedos (ordem: indicador, médio, anular, e mínimo), representador pos números. O denominador/secção trará os dedos da mão esquerda, na mesma sequência.

Tipo fundamentalPolegarDemais dedos
VerticiloV4
Presilha externaE3
Presilha internaI2
ArcoA1
Dedos defeituososXX
AmputaçõesOO

São considerados “defeituosos” dedos que, por quaisquer motivos, não permitam ter seu tipo identificado.

Há 1.048.576 combinações possíveis, de modo que a fórmula datiloscópica apenas classifica os indivíduos, e os pontos característicos distinguem os indivíduos entre si. Tais pontos são acidentes encontrados nas cristas papilares.

No Brasil, para que duas impressões digitais sejam consideradas da mesma pessoa, é preciso haver 12 pontos idênticos e nenhum ponto divergente (presente na amostra, mas não no indivíduo). Esse é um match informatizado que é, posteriormente, verificado por perito.

São vários esses pontos: forquilha, encerro, ponto, cortada, bifurcação, ilhota, interseção, delta, etc.

Antropologia forense

Realiza a identificação de corpos em estado avançado de putrefação, ossadas, corpos carbonizados, segmentos corporais, etc. Tem estreita parceria com Delegacia de Desaparecidos.

Exame médico-legal de ossadas

Determinação de espécie

À antropologia forense cabe apenas ossadas humanas. Se for identificado animal não humano, a perícia já é interrompida.

Quando a ossada é completa, essa é uma determinação simples. Caso contrário, pode-se verificar:

  • Morfologia geral dos ossos, numerando cada fragmento;
  • Clavícula: osso com características exclusivas da espécie humana, sendo o primeiro a iniciar a ossificação (5-6 semanas de vida intrauterina);
  • Microscopia dos canais de Havers;
  • Sangue:
    • Cristais de Teichmann: sua presença indica que o material é sangue, independentemente da espécie;
    • Morfologia das hemácias;
    • Albuminorreação, reação antígeno-anticorpo, e método de Uhlenhuth.

Determinação de número de indivíduos

Em desastres, é possível que só se encontrem fragmentos corporais, de modo que não é trivial determinar quantos indivíduos estavam envolvidos.

Determinação de sexo

Pode falhar, pois existem pessoas trans que não revelam à sua comunidade que seu sexo biológico é distinto de sua identidade de gênero, e não considera interssexualidade.

Os ossos mais importantes são:

  • Pelve: mais larga nas mulheres (maior ângulo infrapúbico), mais pesada e robusta em homens, com relevos ósseos mais proeminentes. Como sua formação é altamente dependente da puberdade, é menos precisa em crianças e adolescentes;
  • Crânio:
    • Fronte: glabela é mais proeminente e posteriorizada no homem, e mais horizontal na mulher;
    • Rebordo supraorbitário: mais redondo no homem, e mais fino na mulher;
    • Processo mastoide: mais proeminente no homem;
    • Ângulo da mandíbula: mais agudo no homem;
    • Protuberância mentoniana: mais proeminente no homem.
  • Mandíbula;
  • Tórax;
  • Ossos longos;
  • Arcada dentária superior: na vista anterior, é V no homem, com molar mais lateralizado, e em U na mulher;
  • C1 (Atlas): superfície articular superior para o côndilo occipital tem formato de sola de sapato no homem, e de feijão na mulher.
Fonte.
Fonte.

Estimativa de idade

Do nascimento à adolescência, pode ser feita pela análise dos centros de ossificação (fechamento metafisário, soldadura das epífises, comprimento de ossos longos). Até os 10 anos, também se emprega o desenvolvimento e a erupção dentária.

A partir da puberdade, emprega-se:

  • Pelve: fusão dos centros de ossificação acontece na juventude, e alterações da sínfise púbica (torna-se mais lisa) acontecem dos 30-50 anos;
  • Fechamento das suturas cranianas: ocorre entre 25-50 anos, com apagamento total dos 65-80;
  • Desgaste dentário;
  • Densidade óssea (vértebras, fêmur).

Estimativa de estatura

Pela ação da gravidade, o cadáver recente tem 2 cm a mais que o vivo. Já a ossada, por não ter partes moles, tem 4-6 cm a menos que o vivo.

Para obtê-la, deve-se somar o comprimento de crânio, C2-L5, S1, fêmur, tíbia, tálus, e calcâneo.

Entre populações, essa estimativa pode sofrer grandes variações, especialmente devido aos ossos longos.

Estimativa de etnia/ancestralidade

É controversa a validade e precisão dessas técnicas. Segundo Ottolenghi, há 5 tipos étnicos fundamentais:

  • Caucásico;
  • Mongólico;
  • Negroide;
  • Indiano;
  • Australoide.

E a caracterização étnica é feita pelos índices (medidas do crânio):

  • Craniano;
  • Facial superior;
  • Nasal;
  • De prognatismo (ângulo facial).

O índice cefálico é a relação entre a largura e o comprimento do crânio, e seria indicativo de etnia. A Fórmula de Retzius a define como:

\frac{Largura\:do\:crânio \times 100}{Comprimento\:do\:crânio}

Verificação de marcas ósseas

Doenças, estigmas profissionais, traumas antigos, etc.

Estimativa da causa da morte

Através de outros dados.

Identificação médico-legal

Caso possível, pois a antropologia forense, muitas vezes, funciona mais para excluir que para firmar uma identificação.

Referência(s)

Aulas da professora Luciana de Paula Lima Gazzola.


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