Abordagem do exantema febril
- A maioria dos exantemas febris da infância são de origem infecciosa e viral.
- Necessário identificar complicações e sinais de alerta.
- Em alguns casos, há necessidade de notificação e de profilaxia de contatos.
Anamnese
- Identificação:
- Idade;
- Procedência;
- HMA:
- Caracterização do pródromo;
- Aparecimento do exantema e modo de evolução;
- Relação com a febre;
- Distribuição;
- Duração;
- Sinais e sintomas associados;
- Fatores desencadeantes;
- Sintomas semelhantes em contatos próximos;
- Exposição ao sol;
- HPP:
- Antecedentes mórbidos;
- Uso de medicamentos;
- Vacinação;
- História epidemiológica.
Exame físico
É importante caracterizar bem as lesões dermatológicas elementares. A partir deles, dividem-se 3 grupos:
- Exantema papulovesiculoso;
- Exantema maculopapular:
- Morbiliforme: pápulas e vesículas avermelhadas, com áreas saudáveis em vermelho;
- Rubeoliforme: rosáceo;
- Escarlatiniforme: micropápulas coalescentes que dão aspecto áspero à pele;
- Urticariforme: predominância de placas;
- Exantema petequial/purpúrico.
Exantem papulovesiculoso
Varicela/Catapora
- Idade: com a vacinação, passou a predominar em pacientes jovens ou adolescentes não vacinados.
- Período de incubação: 10-21 dias (média: 15 dias).
- Pródromo: não há.
- Lesões evoluem rapidamente de maculopapulares para papulovesiculosas para crostras. Se concentra no tronco e progride para os membros, com variação do tipo de lesão em cada parte do corpo (polimorfismo regional).
- Pode acometer todo o corpo, inclusive mucosas.
- Tratamento:
- Sintomático (anti-histamínicos e anti-térmicos);
- Orientações de higiene;
- Unhas cortadas.
- Complicações: mais frequentes em imunossuprimidos
- Infecções de pele;
- Pneumonia;
- Encefalite;
- Cerebelite;
- Nefrite;
- Artrite.
- Prevenção:
- Vacinação aos 15 meses e 4 anos;
- Vacina de bloqueio a contatos não vacinados;
- Imunoglobulina para pacientes imunossuprimidos que tiverem contato com doentes;
- Afastamento da criança até que não haja mais lesões.
Exantema maculopapular
Sarampo
- Idade: pacientes não vacinados.
- Período de incubação: 10-12 dias.
- Pródromo:
- Sintomas respiratórios altos;
- Conjuntivite;
- Febre alta;
- Mal estar;
- Mialgia.
- Um sinal patognomônico, mas nem sempre presente, são as manchas de Koplik. Aparecem nas mucosas por poucos dias antes do exantema.
- O exantema é maculopapular e disseminado por todo o corpo, com poucas áreas sadias. As manchas vão escurecendo com a progressão da doença, e evoluem com descamação furfurácea.
- Tratamento:
- Sintomáticos;
- Vitamina A em pacientes jovens ou desnutridos;
- Antibioticoterapia para complicações bacterianas.
- Complicações:
- Infecções bacterianas:
- Otite;
- Pneumonia;
- Pneumonia viral de células gigantes;
- Em desnutridos:
- Reativação de focos latentes de tuberculose;
- Piora nutricional.
- Infecções bacterianas:
- Prevenção:
- Vacina aos 12 e 15 meses;
- Vacina de bloqueio (até 72 h) a contatos não vacinados;
- Imunoglobulina para pacientes imunossuprimidos que tiverem contato com doentes;
- Afastamento da criança;
- Notificação obrigatória.
Rubéola
- Idade: com a vacinação, passou a predominar em pacientes jovens ou adolescentes não vacinados.
- Período de incubação: 14-21 dias (média: 16 dias).
- Pródromo: não há.
- Sintomas:
- Febre baixa;
- Exantema róseo;
- Linfadenomegalia cervical e retroauricular.
- O exantema é rubeoliforme, e progride em direção céfalo-caudal. É pouco confluente e não descama.
- Infecção benigna, exceto em gestantes. Nelas, o filho pode nascer com rubéola congênita (microcefalia, cardiopatias, e catarata).
Exantema súbito
- Idade: 6-36 meses.
- Pródromo: febre alta (3-4 dias) e irritabilidade.
- Manchas rubeoliformes, não confluentes, no tronco.
- Paciente apresenta-se no consultório já após a melhora do estado geral, visto que é esse o momento em que surgem as manchas.
- Tem curta duração e não traz sequelas, sendo necessário apenas tranquilizar os pais.
Eritema infeccioso
- Idade: 5-15 anos (pico aos 7 anos).
- Período de incubação: 6-14 dias.
- Pródromo: não há.
- Estágios:
- Exantema malar (face esbofeteada);
- Exantema em membros, com aspecto rendilhado (áreas sãs intercaladas com áreas adoecidas);
- Recorrência de exantema por irritantes cutâneos.
- Tem curta duração e bom prognóstico, mas pode recorrer durante semanas em situações de estresse e irritação cutânea.
Escarlatina
- Causada por estreptococo β-hemolítico do grupo A, sendo, por isso, associada a faringoamigdalite.
- Exantema escarlatiniforme, craniocaudal, e confluente. Outros sinais:
- Língua em framboesa;
- Sinal de Filatov (área perioral poupada do exantema);
- Sinal de Pastia (exacerbação do exantema em regiões de dobras);
- Descamação laminar das pontas dos dedos.
- Transmissão: contato com secreções respiratórias. Após 24 h de antibioticoterapia adequada, a transmissão é interrompida.
- Complicações:
- Otite média aguda;
- Sinusite;
- Abscesso peritonsilar ou retrofaringeano;
- Adenite supurativa;
- Febre reumática;
- Glomerulonefrite.
- Diagnóstico: testes com esfregaço faringeano (cultura e teste rápido) ou detecção do ASLO (antígeno)
- Tratamento: antibioticoterapia com β-lactâmicos por 10 dias ou penicilina benzatina em dose única.
Mononucleose
- Causada pelo vírus Epstein-Baar.
- Em 50% dos casos, é oligo ou assintomática.
- Diagnóstico diferencial importante com escarlatina.
- Sintomas:
- Amigdalite membranosa;
- Linfadenomegalias;
- Febre prolongada (14-15 dias);
- Esplenomegalia;
- Exantema maculopapular, frequentemente surgido após contato com β-lactâmicos.
Doença de Kawasaki
- Origem genética.
- Idade: menores de 5 anos.
- Sintomas:
- Febre porao menos 5 dias, acompanhada de um mínimo de 4 dos seguintes sintomas:
- Conjuntivite não purulenta;
- Exantema maculopapular ou petequial;
- Lesões na mucosa oral;
- Eritema e edema endurado nas palmas das mãos e plantas dos pés;
- Linfadenomegalia > 1,5 cm unilateralmente.
- Febre porao menos 5 dias, acompanhada de um mínimo de 4 dos seguintes sintomas:
- Exantema pode ser maculopapular ou petequial, mas não papulovesiculoso.
Exantema petequial/purpúrico
Meningococcemia
- Causada por Neisseria meningitidis (meningococo).
- Idade: todas as idades, mas principalmente antes dos 5 anos.
- Alta letalidade (20-50%).
- Exantema vascular (não desaparece à digitopressão), com lesões maiores que 0,5 cm, que progridem para grandes sangramentos.
- A suspeita parte de sintomas respiratórios, circulatórios, e da aparência das lesões.
- Tratamento:
- Antibioticoterapia imediata (logo na suspeita);
- Oferta de oxigênio.
- Prevenção:
- Vacina contra sorotipo C aos 3, 5, e 12 meses;
- Vacina contra sorotipos ACWY entre 11 e 12 anos;
- Isolamento respiratório por 24 h após o início da antibioticoterapia (transmissão por perdigotos);
- Precaução com manipulação de lesões (contagiosas);
- Quimioprofilaxia de contatos;
- Notificação obrigatória.
Diagnóstico diferencial com farmacodermias
- Ocorrem após exposição a fármacos.
- Comuns lesões urticariformes, polimórficas, e em alvo.
- Quando há acometimento de mucosas, é necessário pensar em Stevens-Johnson, uma manifestação mais grave de farmacodermia que exige internação.
- O tratamento é com medidas de suporte e retirada do fármaco causador.
Referência(s)
Aulas das professoras Aline Almeida Bentes, Priscila Menezes Ferri Liu, e Tatiana de Oliveira Rassi.