Resumo de pediatria – Síndrome do respirador oral: fisiopatologia, etiologia, repercussões, e abordagem

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Trata-se de conjunto de doenças marcadas pela respiração bucal da criança, especialmente durante o sono, com variados níveis de comprometimento.

Fisiopatologia

Até o 5º-6º mês de vida, RNs e lactentes obrigatoriamente respiram pelas narinas, pois a cavidade oral é preenchida pela língua. Com o tempo, a inferiorização da laringe permite a respiração bucal, que, normalmente, não ocorrerá. Razões para o desvio desse padrão incluem:

  • Orgânicas: obstáculos mecânicos à respiração nasal;
  • Funcionais: respiração bucal habitual, que resiste à remoção de obstáculos mecânicos ou patogênicos à respiração nasal;
  • Impotência funcional: disfunção neurológica.

O nariz purifica, aquece, e umidifica o ar, além de oferecer resistência à sua passagem. Isso auxilia no controle da frequência e da duração da respiração, de modo que a respiração oral diminui a eficácia da troca gasosa.

Etiologia

Frequentemente multifatorial, envolvendo combinação de diversos fatores obstrutivos:

  • Hiperplasia amigdaliana;
  • Hiperplasia de conchas nasais;
  • Rinite alérfica;
  • Macroglossia;
  • Alongamento de palato mole;
  • Desvio de septo;
  • Malformações craniofaciais;
  • Diminuição do tônus faríngeo.

Repercussões

Crescimento craniofacial

A obstrução nasal crônica e a suplência por respiração oral resultam em alterações posturais da face (língua em contato com palato duro), levando à chamada fácies adenoidiana ou síndrome da face longa:

  • Face estreita e alongada;
  • Lábios abertos ou entreabertos e ressecados;
  • Lábio superior hipofuncionante e curto;
  • Lábio inferior volumoso e com eversão;
  • Língua rebaixada e hipotônica;
  • Hipotonia da musculatura orofacial;
  • Nariz achatado e narinas pequenas;
  • Atresia maxilar (palato em ogiva);
  • Protrusão de dentes superiores;
  • Mordidas abertas e cruzadas;
  • Rotação do ângulo da mandíbula;
  • Anteriorização da cabeça.

É importante ressaltar que essas alterações podem comprometer o paladar, levando a alterações na percepção do prazer alimentar e a sobrepeso.

Apneia obstrutiva do sono (AOS)

  • Marcada clinicamente pela presença de roncos durante o sono, e fisiopatologicamente por episódios de obstrução da via aérea superior, parcial ou completa, provocando dessaturação e hipercapnia.
  • Pode haver diaforese noturna, enurese, sonambulismo, pesadelos, e despertares noturnos que, em conjunto com o sono pouco reparador, provocam sonolência diurna, bem como irritabilidade e outros distúrbios do comportamento.
  • As alterações craniofaciais na síndrome de respiração oral e a obstrução que causou esse quadro são responsáveis pela AOS.
  • A polissonografia está indicada para casos graves ou refratários.
  • A adenotonsilectomia é o tratamento de escolha em pacientes sem anormalidades craniofaciais e/ou neurológicas. Caso esta não seja possível ou resolutiva, está indicada a ventilação não invasiva com CPAP.

Abordagem

  • O aleitamento materno tem vantagens na prevenção da síndrome, devendo ser evitado o uso de chupetas e mamadeiras, e a sucção digital prevenida.
  • A maioria dos pacientes é alérgica, devendo, portanto, ser tomadas medidas ambientais:
    • Encapar colchões e travesseiros com material impermeável;
    • Lavar semanalmente roupas de cama;
    • Evitar tapetes, carpetes, móveis estofados, bichos de pelúcia, cortinas, e outros objetos que acumulem poeira;
    • Garantir exposição solar e ventilação dos cômodos;
    • Evitar tabagismo passivo;
    • Reduzir a presença de animais dentro de casa;
    • Estimular atividades ao ar livre e atividade física aeróbica.
  • A causa obstrutiva deve ser localizada e, quando possível, tratada. Após sua eliminação, ainda deve haver seguimento fonoaudiológico e ortodôntico.

Referência(s)

BECKER, Helena Maria Gonçalves; GUIMARÃES, Roberto Eustáquio Santos; PINTO, Jorge Andrade; et al. Síndrome do Respirador Bucal. In: LEÃO, Ennio; CORRÊA, Edison José; MOTA, Joaquim Antônio César; et al (Orgs.). Pediatria Ambulatorial. Belo Horizonte: Coopmed, 2013.


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