Resumo de crise convulsiva febril na infância: o que é? Como diferenciar de meningite? O que orientar à família?

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  • 1 ano atrás
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A crise febril é uma convulsão associada a hipertermia sem evidência de infecção do SNC, desordem neurológica, ou distúrbios metabólicos.

Epidemiologia

  • Crise convulsiva mais comum da infância (2-5% de incidência na população pediátrica);
  • Idade: 6-60 meses (pico: 18 meses);
  • Risco varia conforme o tempo decorrido de doença febril:
    • 1 h: 21%;
    • 1-24 h: 57%;
    • > 24 h: 22%.

Classificação

SimplesComplexaEstado de mal epiléptico febril
Porcentagem dos casos70-75%9-35%5%
CaracterísticasTônico clônica generalizadaFocalQualquer
Duração< 15 min> 15 min> 30 min
RecuperaçãoEspontânea e completaAlterações neurológicas pós ictais (ex.: paralisia de Todd)Pode recorrer sem recuperação completa do nível de consciência (subentrante)
RecorrênciaNão ocorreEm 24 hPode recorrer sem recuperação completa do nível de consciência (subentrante)

Avaliação clínica

  • Identificar causa da febre;
  • Investigar meningite:
    • Petéquias;
    • Sinais meníngeos;
    • Alteração do nível de consciência;
  • Sonolência e exame neurológico anormal alertam para doença de base;
  • Exames laboratoriais direcionados aos sintomas:
    • Indicações para punção lombar:
      • < 18 meses;
      • Suspeita de meningite;
      • 1ª crise febril complexa;
      • Estado pós-ictal prolongado;
      • História recente de antibioticoterapia;
      • Estado geral comprometido;
    • Indicações para EEG:
      • Suspeita de doença cerebral;
      • Atraso do DNPM;
      • Défice neurológico;
    • Indicações para neuroimagem:
      • Anormalidades neurológicas focais;
      • Crises complexas ou de mal epiléptico febril;
      • Sinais de SHIC;
      • Possível TCE;
      • Suspeita de malformação estrutural.

Abordagem da crise febril simples

Orientações aos familiares

  • Os episódios simples são benignos, com baixo risco de dano estrutural ou de défices cognitivos.
  • Durante a crise:
    • Manter a criança em decúbito lateral, em superfície plana e segura, com travesseiro sob a cabeça;
    • Retirar objetos de dentro da boca (ex.: aparelho, balas), desde que visíveis;
    • Afrouxar roupas e abrir janelas para facilitar a respiração;
    • Não tentar restringir movimentos;
    • Empregar benzodiazepínico se a crise durar mais de 5 min;
  • Chamar assistência médica em caso de:
    • 1ª crise em pacientes não sabidamente epilépticos;
    • Crises com duração > 5 min;
    • Crises repetidas;
    • Recuperação lenta de consciência;
    • Dificuldade respiratória.

Assistência hospitalar

  • Medicar com diazepam IV inicialmente. Se não houver melhora, empregar fenitoína (15-20 mg/kg) ou fenobarbital (15-20 mg/kg).
  • Indicações de hospitalização:
    • Lactentes;
    • Estado de mal epiléptico febril;
    • Febre de origem indeterminada;
    • Família incapaz de monitorar a criança para recorrência nas próximas horas.

Recorrência

  • Ocorre em 30-40% dos casos;
  • Mais comum entre 6-12 meses após o 1º episódio;
  • Fatores de risco:
    • Idade precoce (< 18 meses): aumento da chance de recorrência para 50%;
    • HF de crise febril;
    • Crise febril complexa no 1º episódio;
    • Tempo <1 h entre o início do pico febril e a crise;
    • Temperatura < 39ºC.

Profilaxia

  • Indicada quando há 2 ou mais fatores de risco (recorrências diminuem em 1/3). Porém, os episódios tendem a ser benignos, e os medicamentos têm efeitos colaterais;
  • Antitérmicos não previnem recorrência;
  • Profilaxia deve ser instituída por neurologista;
  • Modalidades:
    • Profilaxia contínua:
      • Fenobarbital ou valproato;
      • Manutenção por no mínimo 12 meses, no máximo até os 5 anos de idade;
      • Retirada da medicação ao longo de 3-6 meses;
    • Profilaxia intermitente:
      • Diazepam ou clobazam;
      • Emprego durante o período febril e até 48-72 h depois.

Desenvolvimento de epilepsia

  • 6-7% de risco de desenvolver epilepsia após crise febril;
  • Fatores de risco:
    • Défice neurológico prévio;
    • Crise febril complexa;
    • HF de epilepsia.

Referência(s)

Aula da professora Ana Elisa Ribeiro Fernandes.


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