Arboviroses são as doenças causadas por arbovírus e transmitidas por artrópodes, sendo dengue, febre amarela, Chikungunya e Zika suas principais representantes. São sazonais, predominando no verão.
Prevenção das arboviroses
Além das medidas de controle dos criadouros do Aedes aegypti, recomenda-se a crianças:
- Uso de repelentes (não aplicar em crianças com < 2 meses, nunca aplicar nas mãos das crianças);
- Uso de roupas que cubram braços e pernas;
- Cobrir berços e carrinhos com mosquiteiro impregnado com permetrina;
- Utilizar roupas impregnadas com permetrina (não utilizar produtos com permetrina diretamente na pele);
- Vacinação contra febre amarela (2 doses: aos 9 meses e 4 anos).
Dengue
Caso suspeito
Definido por febre há < 7 dias acompanhada de ao menos 2 dos seguintes sintomas (em indivíduo que residente ou visitante de áreas endêmicas):
- Cefaleia ou dor retro-orbitária;
- Prostração;
- Náuseas e/ou vômitos;
- Mialgia e/ou artralgia;
- Exantema.
Características do exantema
- Surge do 3º-4º dia;
- Tipicamente maculopapular escarlatiniforme, podendo ser também purpúrico/petequial;
- Distribuição centrífuga, que pode iniciar em qualquer área, e acometer palmas e plantas;
- Pode ser pruriginoso;
- Na resolução, evolui com descamação fina.
Diagnóstico laboratorial
Testes têm boa especificidade, mas sensibilidade mediana, de modo que, caso negativos, nova sorologia deve ser realizada para confirmação ou descarte. São eles:
- Sorologia (IgM): a partir do 6º dia do início de sintomas;
- Detecção de antígenos virais: pode ser feita até o 5º dia do início dos sintomas por NS1, isolamento viral, RT-PCR, ou imunohistoquímica. Por ter mais alto custo, devem ser realizados apenas em casos graves.
Estratificação de risco
Não | Sim | Sim ou não | Sim ou não | |
---|---|---|---|---|
Sinais de alarme | Não | Não | Não | Sim |
Prova do laço
- Deve ser realizada em caso de suspeita clínica de dengue apenas em pacientes do grupo A.
- Não confirma e nem exclui o diagnóstico de dengue, embora torne-o mais provável, sendo útil apenas para estratificar o risco do paciente.
- Caso positiva, não deve ser repetida. A repetição deve ser feita no seguimento do paciente somente caso tenha sido previamente negativa.
- Método:
- Medir a PA;
- Insuflar o manguito até o ponto médio entre a PAS e a PAD;
- Mantê-lo insuflado por:
- 5 min em adultos;
- 3 min em crianças;
- Procurar por petéquias no antebraço, abaixo da fossa cubital;
- Escolher o local de maior concentração de petéquias e marcar um quadrado com 2,5 cm de lado;
- Considerada positiva caso dentro do quadrado haja:
- ≥ 20 petéquias em adultos;
- ≥ 10 petéquias em crianças.
Condições clínicas especiais
- Gestantes;
- Crianças < 2 anos e idosos > 65 anos;
- História de:
- HAS;
- Cardiopatia;
- DM;
- Doença hematológica crônica;
- DRC;
- Hepatopatia;
- Doença cloridro-péptica;
- Doença autoimune;
- Uso de:
- Anticoagulantes;
- Antiagregantes plaquetários;
- Imunossupressores;
- Antiinflamatórios;
- Risco social (baixa adesão ao tratamento).
Sinais de alarme
- Dor abdominal intensa e contínua;
- Vômitos persistentes;
- Hipotensão postural;
- Lipotímia;
- Hepatomegalia (≥ 2 cm) dolorosa;
- Sangramento de mucosas;
- Sonolência ou irritabilidade;
- Desconforto respiratório;
- Derrames cavitários;
- Elevação do hematócrito ≥ 10% do valor basal ou do VR, associada a plaquetopenia.
Sinais de choque
- Extremidades frias e/ou cianóticas;
- Pulso rápido e fino;
- Perfusão capilar > 2 segundos;
- Hipotensão arterial;
- Diferença ≤ 20 mmHg entre PAS e PAD;
- Taquipneia;
- Redução da diurese;
- Sangramento grave (hematêmese, melena, metrorragia, sangramento no SNC);
- Lesão de órgãos-alvo (ex.: meningoencefalite, miocardite, dano hepático com AST ou ALT > 1000 UI/mL).
Conduta
- Tratamento de suporte conforme o quadro clínico.
- Não devem ser utilizados AINEs ou AAS.
Grupo A
- Hidratação oral vigorosa até a alta, 1/3 na forma de SRO e o restante em água, sucos, e chás. Em crianças menores de 13 anos, o volume deve ser:
- ≤ 10 kg → 100 mL/kg/d;
- 10-20 kg → 1000 mL + 50 mL/kg/d (referentes aos kg que excederem 10);
- ≥ 20 kg → 1500 mL + 20 mL/kg/d (referentes aos kg que excederem 20).
- Somar:
- 50-100 mL de perdas para crianças < 2 anos;
- 100-200 mL de perdas para crianças > 2 anos.
- Notificação obrigatória.
- Orientar:
- Repouso;
- Retorno imediato se manifestações hemorrágicas ou sinais de alarme.
- Reavaliação no dia de melhora da febre ou no 5º dia da doença.
- Alta 24-48 h após a defervescência, se sinais de alarme estiverem ausentes.
Grupo B
- Realizar hemograma com contagem de plaquetas em regime de urgência, a serem avaliados no mesmo dia.
- Se o aumento do hematócrito for < 10% do basal ou VR:
- Reavaliar diariamente até o 7º dia, refazendo o hemograma a critério clínico;
- Alta após 7º dia de doença na ausência de sinais de alarme.
- Se o aumento do hematócrito for ≥ 10% do basal ou VR:
- Encaminhar para UPA;
- Hidratar por VO ou IV (40 mL/kg ao longo de 4 h) e repetir hematócrito 4-6 h depois.
- Se o aumento do hematócrito for < 10% do basal ou VR:
- Hidratar por via oral até o resultado. Se intolerância à via oral, iniciar hidratação venosa com SF 0,9%, 25 mL/kg ao longo de 6 h.
Grupo C
- Internar por, no mínimo, 24 h.
- Hidratação IV (SF 0,9%, 10 mL/kg/h por 2h).
- Reavaliar clinicamente a cada 1 h e com hematócrito a cada 2 h. Se a resposta for inadequada, conduzir como grupo D.
- Além do hematócrito, solicitar:
- Exames laboratoriais:
- Plaquetas de 12 em 12 h;
- Perfil hepático (AST, ALT, bilirrubinas, albumina);
- Exames de coagulação (RNI, PTT);
- Glicemia;
- Eletrólitos;
- Função renal (ureia, creatinina);
- RX ou USG na suspeita de derrames cavitários.
- Exames laboratoriais:
- Notificação imediata à vigilância epidemiológica.
- Alta para acompanhamento ambulatorial após 24 h de melhora clínico-laboratorial.
Grupo D
- Iniciar imediatamente expansão IV com cristaloides (20 mL/kg) e oxigenoterapia. Após cada expansão, reavaliar clinicamente. Realizar até 3 expansões e, caso o choque persista, iniciar albumina.
- Internar em UTI ou leito semiintensivo.
- Realizar os mesmos exames do grupo C.
- Monitorar o balanço hídrico.
- Notificação imediata à vigilância epidemiológica.
Febre amarela
Caso suspeito
O critério principal para suspeita é a epidemiologia, pois os sintomas são inespecíficos, como:
- Febre;
- Cefaleia;
- Prostração;
- Náuseas e/ou vômitos;
- Mialgia e/ou dor nas costas;
- Icterícia de intensidade variável;
- Sangramento gengival e/ou epistaxe;
- Exantema petequial/purpúrico.
Diagnóstico laboratorial
- Sorologia (IgM): deve ser feita com coleta de amostras seriadas (após o 5º dia e, depois, 14-21 dias após a 1ª amostra), que encontrarão aumento ≥ 4x nos títulos;
- Detecção de antígenos virais: pode ser feita até o 5º dia do início dos sintomas por isolamento viral ou RT-PCR.
Estratificação de risco
Forma leve (grupo A)
- Quadro inespecífico, em que a suspeita de febre amarela surge majoritariamente pelo contexto epidemiológico.
- Autolimitada (até 12 dias).
- Sintomas:
- Febre com calafrios;
- Cefaleia (principalmente supraorbital);
- Mialgia;
- Lombalgia;
- Tontura.
Forma moderada (grupo B)
Além dos sintomas inespecíficos há:
- Sinais clínicos de alarme:
- Vômito;
- Diarreia;
- Dor abdominal;
- Sangramento leve (epistaxe, gengivorragia, petéquias);
- Icterícia;
- Colúria;
- Congestão conjuntival e facial;
- Alterações laboratoriais:
- AST aumentada > 5x;
- Plaquetas < 50 mil;
- Proteinúria.
Forma grave (grupo C)
- Desenvolve-se abruptamente após 5-6 dias de incubação (após remissão do quadro inicial) e perdura por 4-5 dias.
- Sinais e sintomas:
- Febre alta;
- Dissociação da FC e da temperatura (sinal de Faget);
- Cefaleia intensa;
- Mialgia acentuada;
- Icterícia;
- Epistaxe, hematêmese, e melena;
- Dor epigástrica.
- Quadro de toxemia, hemorragias, e encefalopatia.
- Em torno de 5-7 dias, instala-se insuficiência hepatorrenal e CIVD.
- AST > 1200 UI/mL é mau fator prognóstico.
- Letalidade em torno de 50%.
Conduta
- Tratamento de suporte conforme o quadro clínico.
- Não devem ser utilizados AINEs ou AAS.
- Todas as crianças devem ser internadas.
Chikungunya
- Período de incubação de 1-12 dias (média de 3-7)
- Quadro clínico:
- Febre aguda;
- Exantema;
- Prostração;
- Náusea;
- Artralgia polidistal intensa.
- 70% dos pacientes apresentam quadro sintomático, dos quais:
- Alguns desenvolverão formas típicas, que têm fase aguda (≤ 14 dias), subaguda (14-90 dias) e, em alguns casos, crônica (≥ 90 dias);
- Outros (especialmente pacientes nos extremos de idade ou com comorbidades) desenvolverão formas atípicas (quadros graves, com acometimento de SNC, rins, e miocárdio).
Zika
- Período de incubação de 3-6 dias.
- Quadro clínico:
- Febre, normalmente baixa, de início agudo;
- Cefaleia discreta;
- Exantema maculopapular pruriginoso, que surge no 2º dia e acomete face, tronco, membros, palmas, e plantas;
- Mialgia, lombalgia, e lombalgia;
- Conjuntivite não purulenta.
- Evolução benigna, mas pode causar microcefalia congênita e síndrome de Guillain-Barré.
Diagnósticos diferenciais
- Febres hemorrágicas:
- Febre maculosa;
- Leptospirose;
- Meningococcemia;
- Sepse por outras causas;
- Outras arboviroses;
- Malária.
Referência(s)
Aula das professoras Cristina Gonçalves Alvim, Eleonora Druve Tavares Fagundes, e Janaína Matos Moreira.