Resumo de pediatria – Infecções do trato respiratório inferior (ITRI): bronquiolites virais e pneumonias

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Bronquiolites virais

São doenças sazonais (outono e inverno) que ocorrem em lactentes. Até 20% dos lactentes apresentará esse quadro até seu 2º ano de vida.

Etiologia

A maioria é causada pelo vírus sincicial respiratório (VSR), mas outros agentes etiológicos podem incluir rinovírus, influenza, metapneumovírus, adenovírus, bocavírus, coronavírus, enterovírus, ecovírus, coxsackievírus, e parainfluenza.

Apresentação clínica

  • Apresentação clínica heterogênea.
  • A criança apresenta-se com sintomas prévios de IVAS (coriza, obstrução nasal, febre baixa), que evoluem para sintomas do trato respiratório inferior (tosse, sibilância, roncos, crepitações à ausculta, tempo respiratório prolongado, taquipneia).
  • Quadro costuma ser leve, durando 7-10 dias.
  • 1-3% dos casos precisam de internação (causa mais importante de internação no 1º ano de vida).

Fatores de risco

Podem aumentar a taxa de internação para até 10%:

  • Prematuridade (especialmente nascidos com IG ≤ 28 semanas);
  • Cardiopatia ou pneumopatia prévias;
  • Doença neuromuscular;
  • Síndrome de Down;
  • Imunodeficiência;
  • Vulnerabilidade social;
  • Exposição ao tabaco;
  • Aglomeração.

Diagnósticos diferenciais

  • Pneumonia afebril do lactente;
  • Pneumonias virais;
  • Coqueluche;
  • Lactente sibilante;
  • Covid-19.

Fisiopatologia

Infecção de células epiteliais de brônquios, bronquíolos, e alvéolos (dano direto a células pulmonares com necrose e/ou dano ciliar por inflamação peribronquiolar) leva a pequenas atelectasias, cursando com obstrução de via aérea e hipoxemia.

Tratamento

  • Medidas não farmacológicas:
    • Elevação da cabeceira;
    • Irrigação nasal;
    • Monitorização da FR e da SatO2;
    • O2 suplementar (caso SatO2 < 90-92%).
  • Indicações para internação:
    • Lactentes jovens;
    • Doenças subjacentes;
    • Taquipneia persistente;
    • Esforço respiratório;
    • SatO2 < 90-92%;
    • Vulnerabilidade social.
  • Estão contraindicados corticoides e beta-agonistas.

Prevenção

Vacina contra o VSR está em desenvolvimento. Fora isso, todo o restante da prevenção é secundária, e consiste em monitorização cuidadosa de lactentes sintomáticos. Para lactentes em muito alto risco, o pavilizumabe pode servir como prevenção primária.

Pneumonias

Tratam-se de inflamações do trato respiratório inferior, geralmente de origem infecciosa.

Epidemiologia

  • Principal causa de mortalidade em crianças menores de 5 anos em países subdesenvolvidos, com 1,3 milhão de mortes evitáveis por ano em todo mundo;
  • Em 2017, no Brasil, provocou 351 763 internações em menores de 5 anos;
  • Incidência de 150 milhões de casos/ano em países subdesenvolvidos.

Etiologia

Os principais agentes causadores são vírus. A principal etiologia bacteriana é de estreptococos. Em geral, bactérias provocam quadro mais abrupto, com febre mais alta, toxemia acentuada, e comprometimento mais localizado. Bactérias atípicas costumam provocar quadros mais prolongados.

Faixa etáriaEtiologias
0-28 dias• Bacilos gram negativos (enterobactérias); • Estreptococos do grupo B; • Staphylococccus aureus; • Lysteria monocytogenes; • Citomegalovírus; • VSR.
1-3 mesesChlamydia trachomatis; • Streptococcus pneumoniae; • Staphylococcus aureus; • VSR; • Parainfluenza; • Adenovírus; • Influenza; • Rinovírus.
3-60 mesesStreptococcus pneumoniae; • Haemophilus influenzae; • Moraxellia catharralis; • Staphylococcus aureus; • Mycoplasma pneumoniae; • Chlamydophila pneumoniae; • VSR; • Parainfluenza; • Adenovírus; • Influenza; • Rinovírus.
5-15 anos• Streptococcus pneumoniae; • Mycoplasma pneumoniae; • Clamydophila pneumoniae;Staphylococcus aureus.

Apresentação clínica

  • Anamnese:
    • Idade do paciente;
    • Evolução dos sintomas;
    • Presença de dor abdominal;
    • Contactantes;
    • Vacinação;
    • História perinatal;
    • Comorbidades.
  • Exame físico:
    • Taquipneia;
    • Hipoxemia;
    • Tosse;
    • Esforço respiratório;
    • Crepitações finas e localizadas;
    • Redução de sons pulmonares;
    • Broncofonia.

Propedêutica complementar

O diagnóstico de pneumonia é essencialmente clínico. Podem ser indicados exames de imagem (especialmente RX de tórax, em AP e perfil) em caso de:

  • Dúvida diagnóstica;
  • Internação (baseline e evolução);
  • Casos graves.
  • Falha terapêutica.

Embora não seja específica o bastante para encerrar o diagnóstico, os padrões são sugestivos de etiologias:

  • Alveolar: bactérias;
  • Intersticial: atípicos, vírus;
  • Adenopatia hilar: tuberculose, fungos.

Fatores de risco

  • Baixas condições socioeconômicas;
  • Idade < 2 anos;
  • Prematuridade;
  • Sexo masculino;
  • Exposição ao tabaco;
  • Cardiopatias;
  • Pneumopatias:
    • Displasia broncopulmonar;
    • Fibrose cística;
    • Asma;
  • Doença falciforme;
  • Distúrbios neuromusculares (especialmente se associados a rebaixamento de consciência);
  • Imunodeficiência.

Diagnósticos diferenciais

  • Asma: episódios recorrentes de sibilância, dispneia, e tosse;
  • Bronquiolite viral aguda: sibilância, taquipneia, aumento do diâmetro ântero-posterior do tórax;
  • Aspiração de corpo estranho: sibilância uni ou bilateral, história de início agudo;
  • Tuberculose: linfadenomegalia, febre, perda de peso;
  • Fibrose cística: pneumonias de repetição, ganho de peso insuficiente, esteatorreia, sibilância;
  • Pneumonia de aspiração: déficit de deglutição, quadro neurológico.

Tratamento

No Brasil, o perfil de resistência bacteriana indica:

IdadeOpções para antibioticoterapia inicial
2-60 meses• Amoxicilina 50 mg/kg/d, 8-8 h, 7-10 d; • Penicilina procaína 50 000 UI/kg/d, 12-12 h, 7 d.
6-18 anos• Amoxicilina 50 mg/kg/d, 8-8 h, 7-10 d; • Penicilina procaína 50 000 UI/kg/d, 12-12 h, 7 d; • Eritromicina 50 mg/kg/d, 6-6 h, 14 d.

Após início do tratamento ambulatorial, o paciente deve ser reavaliado em 48-72 h, para avaliar se o paciente mantém febre. Nesse caso, deve-se:

  • Avaliar adesão ao tratamento;
  • Solicitar RX de tórax para descartar complicações.

Caso não haja complicações, pode-se considerar dobrar a dose, e/ou associar clavulanato ou macrolídeos (em maiores de 5 anos).

Devem ser encaminhados à internação pacientes:

  • Graves;
  • Com comorbidades ou complicações;
  • Menores de 6 m;
  • Intolerantes à via oral;
  • Em que houve falha do tratamento ambulatorial;
  • De baixas condições socioeconômicas.

O controle de sucesso do tratamento é clínico.

Prevenção

A medida mais importante é a vacinação contra influenza e com a vacina pneumocócica 10.

Referência(s)

Aulas das professoras Cristina Botelho Barra e Laís Meirelles Nicoliello Vieira.


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