Na criança, o exame genital restringe-se à genitália externa, e é feito por inspeção e palpação pontual para exposição de determinadas estruturas.
A avaliação do desenvolvimento puberal da criança deve ser feita segundo os critérios de Tanner. A seguir, destacam-se as principais anormalidades da genitália feminina e masculina.
Genitália feminina
Hímen imperfurado
Trata-se do hímen que não possui perfuração. É assintomático na criança, e, na adolescente (pubarca e telarca plenas), começa a aparecer como dor crônica de piora cíclica e massa abdominal, sem histórico de sangramento menstrual. A membrana assume coloração avermelhada (retenção de sangue menstrual), e a vagina fica abaulada. Nesses casos, o exame ginecológico completo é necessário, pois podem haver outras malformações associadas.
Sinéquia de pequenos lábios
Trata-se de aglutinação dos pequenos lábios, podendo ser idiopática ou causada por higiene inadequada, infecções locais, ou traumatismos repetitivos. Costuma ser assintomática e benigna, podendo, porém, ser acompanhada de dificuldades miccionais ou pseudoincontinência. A resolução costuma ser espontânea.
Corrimento vaginal
É fisiológico quando não sanguinolento, discreto, e restrito ao primeiro mês de vida e à puberdade. Fora dessas condições, é indicativo de vulvovaginite. Manifesta-se com “corrimento, prurido vulvar, hiperemia e edema locais, e, ocasionalmente, disúria” (Martins, 2010).
Sangramento vaginal
Quando anterior à menarca, pode estar associado a condições benignas, como vulvovaginites, corpo estranho vaginal, prolapso de uretra, e líquen escleroso, mas também a puberdade precoce (anterior a 8 anos), tumores, e abuso sexual.
Condilomas
Tratam-se de lesões provocadas pelo HPV, formando massas vegetantes com aspecto de verrugas.
Genitália masculina
Variações de tamanho
O pênis e o escroto devem ser medidos com régua e orquidômetro, e comparados aos nomogramas ajustados à faixa etária. Em crianças obesas, o pênis pode parecer menor que realmente é. O micropênis verdadeiro é definido como aquele que possui comprimento inferior a -2,5 desvios-padrão.
Fimose
Trata-se de incapacidade de retrair o prepúcio e exteriorizar a glande. Até o 2º mês de vida, é fisiológica, e, depois disso, é normal que a glande ainda não seja totalmente exteriorizada, o que tende a corrigir-se após os 4 anos.
Um caso mais grave é a parafimose, situação em que a glande pode ser exteriorizada pela retração do prepúcio, mas não é possível retorná-lo ao estado original, causando edema e dor. A redução do prepúcio é uma urgência médica, pois a evolução da doença é isquemia.
Hipospádia e epispádia
Tratam-se de malformações congênitas, em que a abertura do meato uretral está na face ventral (hipospádia) ou dorsal (epispádia) da glande.
Distopias testiculares
Criptorquidia
Trata-se de testículo fora da bolsa escrotal, podendo estar localizado nas regiões intra-abdominal, canalicular, ou pubiana. É mais frequente em prematuros, mas a resolução costuma, de qualquer forma, ser espontânea, entre 6-12 meses de vida. Caso isso não ocorra, é necessária correção cirúrgica.
Ectopia testicular
Definida pela localização do testículo em qualquer lugar fora do trajeto normal de descida. A correção cirúrgica deve ser precoce.
Testículo migratório/retrátil
Ocorre quando o testículo varia de localidade: ora no escroto, ora no canal inguinal. É diagnosticado quando não se localiza o testículo na bolsa escrotal, mas consegue-se reduzi-lo a tal. A resolução é espontânea.
Hidroceles
São coleções de líquido seroso peritoneal que seguem para a bolsa escrotal por um conduto peritoniovaginal patente. Apresentam-se como tumorações indolores e transilumináveis, geralmente compressíveis, situadas em torno do testículo, aumentando mediante infecções sistêmicas e traumas locais.
Balanopostite
Infecção que acomete a glande e o prepúcio, causando secreção purulenta, edema, hiperemia, dor, e dificuldade miccional. Pode causar e ser causada por fimose.
Varicocele
Consiste na dilatação varicosa das veias testiculares. No adolescente e no escolar, é uma condição que pode apresentar-se assintomática, como dor crônica ou hipotrofia testicular em apenas um dos lados. Em alguns casos, pode ser necessária intervenção cirúrgica para sua correção.
Torção testicular
Consiste na rotação da gônada em torno do cordão espermático, causando bloqueio da circulação local. Caso a intervenção não ocorra em 6 horas, ocorre infarto hemorrágico. Sintomas incluem dor local súbita e intensa, náuseas, vômitos, sudorese, e palidez. A dor piora com elevação da gônada (sinal de Prehn negativo).
Orquites e epididimites
São infecções, em geral viróticas, do testículo e do epidídimo. Mais comuns na adolescência, causam dor local progressiva, febre, aumento do volume testicular, e hiperemia escrotal. A dor melhora com elevação da gônada (sinal de Prehn positivo).
Hérnia inguinal
Tratam-se de “extravasamentos” do conteúdo abdominal pelo canal inguinal, aparecendo como abaulamento intermitente na região inguinal ou, em meninos, aumento do volume escrotal, que piora com aumento da pressão abdominal. Para provocar esse aumento, pode-se realizar a manobra de Valsava: exalar forçadamente o ar contra os lábios fechados e com o nariz tapado. Em crianças, costumam ser causadas pela persistência do conduto peritoniovaginal embrionário.
No exame físico, deve-se verificar se a hérnia é redutível, encarcerada (perda do domicílio sem problemas agudos), ou de estrangulamento. No caso do estrangulamento, haverá inflamação, acompanhada, evidentemente, de dor.
Referência(s)
- Aula da professora Keyla Christy Christine Mendes Sampaio Cunha;
- DUTRA, Adauto. Semiologia Pediátrica. 2. ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2010;
- MARTINS, Maria Aparecida et al, Semiologia da criança e do adolescente, Rio de Janeiro: MedBook, 2010.