Resumo de semiologia pediátrica: sistema cardiovascular

a doctor examining a child patient
Compartilhe com seus amigos

  • 1 ano atrás
  • 5minutos

Anamnese

Sinais e sintomas

Sinal/SintomaSugestivo deObservações
Cansaço, falta de ar, sudorese, e taquipneia durante amamentação.Shunt E-D
Taquipneia ou cansaço• Shunt E-D;
• Estenoses valvares congênitas;
• Insuficiência cardíaca.
Cianose• Shunt E-D;
• Estenoses valvares congênitas;
• Insuficiência cardíaca.
• Quando é leve, nem sempre os pais percebem.
• Necessário perguntar se há situações de piora.
Posição de cócoras• Crises anoxêmicas em cardiopatias cianóticas com infundíbulo estreito;
• Estenoses graves na via de saída do ventrículo direito (ex.: tetralogia de Fallot).
Ao fletir os membros inferiores, há impulsão do sangue venoso para o coração direito, e a compressão do sistema arterial aumenta a resistência sistêmica nessa circulação e, pois, na aorta e no ventrículo esquerdo. Assim, o shunt D-E diminui, aumentando a oferta de sangue para a circulação pulmonar.
Síncope• Condições não cardíacas (principalmente);
• Arritmias;
• Estenoses valvares;
• Cardiomiopatias hipertróficas com diminuição da via de saída do VE;
• Crises anoxêmicas graves em cardiopatias cianóticas.
Tosse ou “bronquite” de repetição com pneumoniasCardiopatias com shunt E-DO aumento da pressão hidrostática nos capilares interalveolares favorece transudação de líquido para os alvéolos.
Crescimento ponderoestatural retardadoDiminuição do débito sistêmico efetivo (ex.: comunicação interventricular).Sinal de gravidade de cardiopatias.
Sudorese excessivaCardiopatias com hiperfluxo pulmonar• Transudação de líquidos para o alvéolo dificulta a eliminação de vapor de água.
• Insuficiência cardíaca ocasiona liberação de catecolaminas.
Sinais neurológicos• Cardiopatias cianóticas não tratadas;
• Policitemia;
• Abcesso cerebral causado por shunt D-E.

Dados importantes da história pregressa

  • Histórico familiar de cardiopatias;
  • Exposição pré-natal a doenças virais e radiações ionizantes;
  • Em miocardites virais → Exposição prévia da criança ou familiares a síndromes gripais, diarreias, etc;
  • Na febre reumática → Amigdalites de repetição, artralgias, claudicação.

Exame físico

Sinais ectoscópicos

  • Anormalidades físicas: síndromes genéticas (mais comumente a síndrome de Down) podem se associar a cardiopatias;
  • Cianose: torna-se evidente quando há 5g% de hemoglobina reduzida circulante no sangue arterial periférico. Em crianças negras, a pigmentação da pele pode mascarar a cianose. Por isso, deve-se verificar a proliferação de pequenos vasos na conjuntiva;
  • Baqueteamento de dedos e unhas em vidro de relógio: presentes em pneumopatias crônicas e cardiopatias cianóticas e policitêmicas.

Exame dos pulsos arteriais

Palpação dos pulsos

  • Deve-se palpar (com as polpas dos dedos) os pulsos radiais, braquiais, carotídeos (nunca ambos ao mesmo tempo!), femorais, tibiais anteriores, e dorsais do pé.
  • Achados sugestivos de patologia:
    • Diminuição da amplitude nos membros inferiores: coarctação da aorta;
    • Aumento da amplitude dos pulsos: persistência do canal arterial, fístulas arteriovenosas, insuficiência aórtica;
    • Pulsos assimétricos: compressão da artéria em um dos lados (costela cervical, arterite).
  • A frequência cardíaca periférica pode ser avaliada durante a palpação dos pulsos ou durante o exame físico geral (ectoscopia).

Medida da pressão

O manguito deve ter largura igual a 2/3 do segmento onde a pressão está sendo aferida. Os valores de referência alteram-se conforme a idade da criança (hipertensão: > percentil 95).

Exame do precórdio

Inspeção

Com o paciente em decúbito dorsal, deve-se buscar:

  • Abaulamentos;
  • Impulsões sistólicas (ictus cordis) dos ventrículos esquerdo (entre 3º [crianças mais jovens] e 5º [crianças mais velhas] espaços intercostais, na linha hemiclavicular) e direito. A presença de impulsões sistólicas do VD indica dilatações do tronco da artéria pulmonar e do VD, e o deslocamento à esquerda das impulsões do VE indica sua hipertrofia.

Palpação

Com a palma da mão, deve-se palpar os focos de ausculta mitral (ictus cordis), tricúspide, aórtico acessório, aórtico, e pulmonar. Busca-se desvios do ictus cordis, frêmitos, e bulhas acessórias.

Ausculta

Ritmo

Deve-se descrever quanto à (ir)regularidade e à quantidade de bulhas (2 tempos? 3 tempos?). Pode-se, também, avaliar a frequência cardíaca, tendo em mente que seus valores de referência alteram-se com a idade.

Bulhas

São os sons cardíacos produzidos pelos seguintes eventos do ciclo cardíaco:

  • B1: fechamento das valvas mitral e tricúspide (componentes M1 [mitral] e T1 [tricúspide). Inicia a sístole, e é auscultada no momento em que as impulsões de pulsos arteriais são palpáveis;
  • B2: fechamento das valvas aórtica e pulmonar. É desdobrada fisiologicamente em A1 (atrial) e P1 (pulmonar) na inspiração;
    • Quando não se escuta desdobramento, deve-se pedir que o paciente inspire profundamente, e, caso não haja desdobramento sugere-se truncus arteriosus ou atresia da valva pulmonar;
    • Desdobramento persistente sugere atraso do fechamento da valva pulmonar, como quando há shunt E-D. Esse desdobramento pode ser fixo ou variável (intervalo mais longo entre A1 e P1 na inspiração ou expiração, tipicamente na inspiração);
    • Desdobramento paradoxal (apenas na expiração) sugere bloqueio de ramo esquerdo ou sobrecarga do VE;
  • B3: auscultada no enchimento rápido do VE, em situações de redução da complacência do ventrículo e/ou hiperdinamia, podendo estar presentes em crianças normais;
  • B4: auscultada no início da sístole atrial, em situações de redução da complacência do ventrículo, podendo estar presentes em crianças normais.

Deve-se descrever se estão anatomicamente deslocadas e quanto à sua fonese (hipo, normo, ou hiperfonéticas)

Ruídos adicionais

Podem acontecer durante o ciclo cardíaco, na seguinte ordem, com os seguintes significados, os seguintes ruídos adicionais:

  • Estalido de ejeção protossistólico: dilatação do tronco pulmonar;
  • Estalido mesossistólico: prolapso da valva mitral;
  • Estalido de diastólico: abertura da valva mitral quando há estenose.

Sopros

Devem ser descritos quanto a:

  • Fase do ciclo cardíaco:
    • Diastólicos (proto-, meso-, tele-, holo-);
    • Sistólicos (proto-, meso-, tele-, holo-), podendo ser classificados como:
      • De ejeção → Começa após B1;
      • De regurgitação → Abafa o som de B1;
    • Contínuos;
  • Irradiação;
  • Localização (de maior intensidade);
  • Configuração:
    • Crescendo-decrescendo;
    • Crescendo;
    • Decrescendo;
    • Platô;
  • Grau:
    1. Audível com dificuldade;
    2. Audível com facilidade;
    3. Audível com facilidade, intenso;
    4. Audível com facilidade, intenso, com frêmito;
    5. Audível sem necessidade de contato completo do estetoscópio com o precórdio, intenso, com frêmito.

Levando isso em conta, sopros inocentes:

  • São sistólicos em crescendo-decrescendo (de ejeção) ou contínuos;
  • Apresentam curta duração e/ou baixa intensidade;
  • Vêm desacompanhados de ruídos acessórios ou alterações das bulhas cardíacas;
  • Têm localização bem definida, com pequena ou nenhuma irradiação;
  • Modificam-se com a posição do paciente, com a fase respiratória, e com alterações da frequência cardíaca.

Referência(s)


Compartilhe com seus amigos