• Compõe-se pelas consciências:
  • Da atividade e da autonomia do eu;
  • Da existência do eu;
  • Da unidade do eu;
  • Da continuidade do eu;
  • Dos limites do eu.
• Na prática, as alterações costumam abarcar todos esses aspectos da consciência.

Alterações quantitativas

Alterações da consciência da existência do eu

• Consciência do eu pode estar diminuída ou abolida, em que o paciente queixa-se da diminuição das intensidades de suas sensações corpóreas, sentimentos, recordações, e motivações.
• Pode estar aumentada em função de exacerbação do sentimento vital.

Desorientação autopsíquica

• Consiste em perda ou diminuição da consciência de continuidade do eu.
• Quando total, o paciente esquece quem é. Quando parcial, o paciente esquece de aspectos de sua existência e/ou personalidade (ex.: sua idade).

Alterações qualitativas

Alterações da consciência da atividade do eu

Paciente torna-se um mero observador de suas vivências psíquicas, que não reconhece como próprias, mas sim como fruto de forças externas.

Alterações da consciência da unidade do eu

• Paciente vivencia divisão do seu eu em duas ou mais partes, que coexistem de forma desarmônica, ou sente ser duas ou mais pessoas ao mesmo tempo (dupla orientação autopsíquica).
• Está presente também na dupla orientação alopsíquica, na paratimia e na ambitimia, e na ambitendência.

Alterações da consciência da continuidade do eu

• Paciente vivencia profunda transformação de sua personalidade ou do seu corpo, e sente como se não fosse mais a mesma pessoa, podendo acreditar que sua existência anterior foi vivida por outro, ou assumir uma nova identidade.
• Despersonalização: estado de perplexidade em relação ao próprio eu, no qual as vivências de transformação se acompanham de sentimentos de estranheza e irrealidade em relação a si mesmo. Pode esta associada a desrealização, ou seja, esses mesmos sentimentos relacionados ao mundo externo.

Alterações da consciência dos limites do eu

Apropriação

O que acontece a objetos inanimados ou a outras pessoas é experimentado como vivência própria.

Transitivismo

Atribuição de vivências próprias a outras pessoas.

Divulgação

Paciente tem a vivência de que seus pensamentos extravasam de sua mente: mal acaba de pensar e todos já conhecem seus pensamentos.

Exame da consciência do eu

• Logo nas perguntas de identificação da anamnese a consciência do eu já é avaliada.
• Uma expressão fisionômica de perplexidade pode indicar despersonalização.
• Verificações constantes do próprio corpo, ou consulta frequente a um espelho, constituem o chamado sinal do espelho, observado na despersonalização na fase inicial da esquizofrenia.
• Pacientes com divulgação do pensamento podem se recusar a responder às perguntas do examinador, alegando que este já sabe tudo sobre ele.

4. Consciência do eu nos principais transtornos mentais

Esquizofrenia

• Despersonalização é frequente no pródromo.
• Quando a psicose está instalada, a consciência do eu pode alterar-se em todas as suas características, especialmente nas formas catatônica e paranoide.

Mania

Há exacerbação da consciência de existência do eu.

Depressão

• Observa-se diminuição, ou mesmo abolição, da consciência do eu.
• Pode cursar com despersonalização.

Transtornos de ansiedade

Despersonalização é frequente em ataques de pânico.

Transtornos dissociativos

• Podem haver alterações na amnésia psicogênica.
• Em estados de possessão, estão alteradas as consciências da atividade, da continuidade, e/ou da unidade do eu.
• No transtorno de personalidade múltipla, há distúrbio da consciência da identidade do eu.
• Em estados de êxtase, altera-se a consciência dos limites do eu.

Intoxicação por alucinógenos

LSD, mescalina, e similares podem causar experiências de alteração da imagem corporal, constituindo alterações das consciências de continuidade, continuidade, e limites do eu.

Referência(s)

CHENIAUX, Elie, Manual de psicopatologia, 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.