Consciência em psiquiatria: o que é? Como se altera? Como examinar? Como se apresenta nos transtornos mentais?

Compartilhe com seus amigos

  • 2 anos atrás
  • 4minutos
  • Segundo Karl Jaspers, é a integração de todos os processos mentais em determinado momento.
  • Características:
    • Vivência interna e atual;
    • Relacionada à distinção eu/não eu;
    • Conhecimento que o indivíduo tem de suas vivências internas, de seu corpo, e do mundo externo;
    • Reflexiva – ou seja, o indivíduo tem consciência de sua consciência, e pode refletir sobre seus conteúdos psíquicos.
  • Consciência enquanto vigilância: corresponde a um estado neurofisiológico, em que um indivíduo consciente é aquele que está vigil, desperto, alerta, com o sensório claro.
  • Lucidez: estado de vigilância plena, oposto no extremo ao sono e ao coma. Corresponde à dimensão vertical ou quantitativa da consciência.
  • Campo da consciência: quantidade de conteúdos que a consciência abarca em determinado momento. Corresponde à dimensão horizontal ou qualitativa da consciência.

Alterações quantitativas fisiológicas

Sono

Estado de inconsciência de que o indivíduo pode ser despertado por estímulos sensoriais. O sono profundo (sem sonhos) constitui um estado fisiológico de abolição da consciência.

Alterações quantitativas patológicas

Elevação do nível de consciência

  • É um conceito controverso, mais uma possibilidade teórica que algo empiricamente observado.
  • Situação em que haveria aumento de intensidade de percepções, afeto, atividade, memória de evocação, e atenção espontânea, com prejuízo simultâneo à capacidade de concentração e de raciocínio e à memória. Haveria, também, incoerência, desorganização, e hipopragmatismo.
  • Ocorreria na intoxicação por alucinógenos e por anfetamina, na mania, no início da esquizofrenia, e em auras epilépticas.

Rebaixamento do nível de consciência (obnubilação)

  • Refere-se a um nível de consciência entre lucidez e coma, em que a percepção do mundo externo torna-se vaga e imprecisa e há dificuldade para a apreensão do próprio eu.
  • Possui sempre etiologia orgânica.
  • Relacionado a comprometimento difuso e generalizado do funcionamento cerebral, afetando especialmente atenção, orientação alopsíquica, pensamento, inteligência, sensopercepção, memória, afeto, e psicomotricidade.

Obnubilação simples

  • Caracterizada por intensa sonolência sem sintomas psicóticos.
  • Paciente apresenta:
    • Hipoprosexia;
    • Desorientação no tempo e no espaço;
    • Pensamento empobrecido e alentecido (às vezes, mutismo);
    • Dificuldade de compreensão e de raciocínio;
    • Hipoestesia;
    • Hipomnésia de fixação e de evocação;
    • Apatia;
    • Inibição psicomotora (às vezes, estupor).

Obnubilação oniroide

  • Caracterizada por presença de sintomas psicóticos, especialmente ilusões, pseudoalucinações visuais (com outras modalidades sensoriais menos frequentemente acometidas), e ideias deliroides.
  • Paciente apresenta:
    • Dificuldade de concentração (com exacerbação da atenção espontânea);
    • Desorientação temporoespacial;
    • Desagregação do pensamento;
    • Dificuldade de compreensão e de raciocínio;
    • Amnésia de ficação e de evocação;
    • Exaltação afetiva (frequentemente, ansiedade);
    • Perplexidade;
    • Agitação psicomotora.

Coma

Constitui abolição da consciência, sem que o indivíduo possa ser despertado, nem por estímulos dolorosos intensos. Não há motricidade voluntária ou sensibilidade. Embora a vida somática prossiga, cessa a atividade psíquica.

Alterações qualitativas fisiológicas

Sonhos

Vivências subjetivas que se dão durante o sono. A consciência presente é parcial, pois vários aspectos da consciência de vigília estão ausentes, como controle, coerência, memória de longo prazo, capacidade de crítica, e autoconsciência.

Alterações qualitativas patológicas

Estreitamento do campo da consciência

A consciência estreitada se restringe a determinadas vivências (ideias, afetos, imagens, e ações), com as demais, bem como vários dos estímulos externos, inacessíveis à consciência. A continuidade e unidade psíquicas da personalidade e a capacidade de reflexão são perdidas.

Exame de consciência

Fisionomia

  • Fácies que denota sonolência ou fadiga podem indicar rebaixamento de consciência.
  • Perplexidade pode resultar de dificuldade de apreensão do ambiente.

Alienação do mundo externo

  • Indicativa de rebaixamento ou estreitamento de consciência.
  • Traduz-se como desinteresse ou dificuldade de apreensão em relação ao ambiente ou como comportamento inadequado ou incoerente.

Outras funções psíquicas

A consciência pode estar perturbada caso estejam alteradas a atenção, a orientação, a sensopercepção, a memória, e/ou a capacidade de reflexão.

Consciência nos principais transtornos mentais

Delirium

É um quadro agudo caracterizado justamente pelo rebaixamento da consciência, que costuma ser mais intenso à noite, com o nível de consciência flutuando amplamente ao longo do dia.

Esquizofrenia, transtornos do humor, e demência

Ocorrem sob lucidez de consciência.

Epilepsia

  • Oscilações do nível de consciência ao longo do dia parecem ser maiores em epilépticos do que as que ocorrem fisiologicamente em indivíduos normais.
  • Crises do tipo grande mal e ausência simples levam a abolição temporária da consciência.
  • Estado pós-comicial constitui um estado de rebaixamento do nível de consciência.
  • Estreitamento do campo da consciência podem ser uma crise comicial, podendo preceder ou suceder uma crise epiléptica generalizada.

Alcoolismo

  • Na intoxicação por álcool, há rebaixamento do nível de consciência, que pode chegar ao coma.
  • Delirium tremens é um exemplo de obnubilação oniroide.
  • Intoxicação patológica/idiossincrática cursa com estreitamento do campo da consciência.

Narcolepsia

Caracteriza-se por ataques irresistíveis de sono, associados a alucinações hipnagógicas, cataplexia, e paralisia do sono.

Transtornos dissociativos

  • Constituem estados de estreitamento do campo da consciência, de origem psicogênica.
  • São semelhantes a estados hipnóticos, embora o estado de transe seja, nesse caso, autoinduzido. São pacientes bastante (auto-)sugestionáveis.

Referência(s)

CHENIAUX, Elie, Manual de psicopatologia, 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.


Compartilhe com seus amigos